Em 2018, o universo de Invocação do Mal recebeu a sua segunda franquia derivada com o primeiro filme de A Freira. Facilmente ranqueado entre os piores da saga, o filme teve sua única vitória em sua própria razão de existência: explorar a figura do Valak, que por si já havia aparecido em Invocação do Mal 2. A freira demoníaca, com um físico aterrorizante e magnético, era tudo que A Freira tinha a oferecer, e a criatura foi envelopada em uma aventura sem graça com uma estética triste de assistir. Nesse sentido, A Freira 2 não poderia ter sido um presente melhor para a franquia. Usando e abusando da figura de Valak, a sequência é o filme que deveria e poderia ter chegado em 2018 - até porque ele não move em nada os acontecimentos da franquia como um todo.
Para quem achou que a cena pós-créditos de A Freira (que mostrou Maurice, o francês que acabou com a marca de Valak, sendo exorcizado pelos Warren) aconteceria depois do primeiro filme, enganou-se. Aqui, Maurice (Jonas Bloquet) segue vivendo sua vida, agora trabalhando em um internato de jovens garotas na França, enquanto a Irmã Irene de Taissa Farmiga vive isolada em um convento no mesmo país. Uma série de mortes brutais entre membros da Igreja acaba unindo o rumo dos dois, e a resolução do mistério, claro, passa por diversas sequências de jumpscares.
A decisão de colocar Michael Chaves por trás das câmeras neste segundo filme é curiosa, mas surpreendentemente acertada. Responsável por comandar os questionáveis A Maldição da Chorona e Invocação do Mal 3, Chaves retorna para provar suas escolhas estéticas em um filme muito mais bonito e coeso, com personalidade. Chaves conserta muito dos tropeços do primeiro filme, investe em efeito prático, interessa-se pelos seus personagens e sabe lidar com um leque muito maior de coadjuvantes. Não há quase nenhuma ideia original aqui, mas A Freira 2 tem uma história mais bem desenvolvida e envolvente, saída da cabeça da nova queridinha de James Wan, Akela Cooper (Megan, Maligno).
Mas A Freira 2 não está realmente interessado em sua história e sim nas inúmeras sequências de susto e tensão que são criadas de modo paralelo ao arco central. São quartos escuros para se aventurar, antigas abadias, escolas caindo aos pedaços, igrejas trancadas: uma coleção de locais promissores e recheados de vultos ao fundo e feixes de luz. A figura de Valak, que aparece em todo e qualquer lugar, demora a cansar, e é apenas no fim do filme que Chaves mostra esgotamento com seu próprio universo. A culpa está longe da freira demônio, no entanto, e está no prolongamento da resolução e na criação de ameaças aleatórias que aparecem pelo caminho.
Para além de corrigir a estética, os personagens e a trama de A Freira, A Freira 2 também finalmente usa a oportunidade de firmar a personagem de Taissa Farmiga no universo de Invocação do Mal de um jeito que harmoniza com a existência de uma personagem simplesmente idêntica a ela (sua irmã, Vera Farmiga, também conhecida como Lorraine Warren). É uma sucessão de acertos tão simpática que inevitavelmente nos leva a questionar o primeiro A Freira novamente - e acabar minimizando as fragilidades de A Freira 2.
Apesar de sua cansativa sequência final, que chega tarde demais, e absoluta falta de sentido de adiar o momento cronológico da cena pós-creditos de A Freira para ainda depois de A Freira 2, o filme está perfeitamente alinhado com o vício de jumpscares dos capítulos mais elogiados da saga Invocação do Mal. A inutilidade da batalha - já que, claro, Valak está lá presente nos anos 1970 em Invocação do Mal 2 - é perdoável. A Irmã Irene lidera uma aventura de terror gratuita por natureza, mas com tanto fôlego, que A Freira 2 resulta num divertido e recompensador capítulo da franquia.