A Hora do Vampiro, remake do clássico inspirado pela obra de Stephen King, é um daqueles projetos que passou por alguns entreveros para ver a luz do dia. Ele ficou, junto com o live-action de Batgirl e um híbrido de animação com live-action dos Looney Tunes, entre os produtos com os quais a Warner demorou para decidir o que fazer após a mais recente troca de adinistração. No caso destes dois últimos, o engavetamento foi a decisão - já para o terror estrelado por Lewis Pullman, a escolha foi lançar no serviço de streaming do grupo, a Max.
O longa, dirigido por Gary Dauberman, que trabalhou com James Wan no universo Invocação do Mal como roteirista e diretor de Annabelle - O Início, segue à risca a trama do longa original de Tobe Hopper. Um escritor volta à cidade natal e começa a acompanhar uma série de desaparecimentos, mortes e uma estranha doença assolando o povoado. Entre esta trama e as paralelas, que focam em crianças da escola local e padres e vizinhos comuns, a jornada fica em volta de uma casa que aparentemente guarda uma criatura maligna - o vampiro do título, é claro.
A direção de Dauberman opta, no primeiro ato, por construir a atmosfera de suspense conhecida por filmes de época como esse. Poucas pessoas isoladas no interior dos EUA, uma igreja para todos, alguns rostos que são a marca da cidade e jovens impressionados, positiva ou negativamente, com a chegada de um estranho - neste caso, o autor vivido por Pullman. Enquanto monta este cenário, o longa constrói de forma bem sucinta o ambiente da cidadezinha e seus estereótipos, assim como a aura soturna que a floresta e ruas de Salem's Lot possuem.
Ao mergulhar na trama sobrenatural e investigar os acontecimentos, no entanto, A Hora do Vampiro não consegue se entregar para o terror que tentou construir de início, e nem consegue desenvolver bem as histórias que povoam a trama. O jeito que Dauberman pinta os vampiros, de uma forma mais bruta e viral, próximo das criaturas de Guillermo Del Toro em Blade II, com olhos brilhantes e pele machucada, contribui para a proposta, mas a atmosfera fantasmagórica não consegue convencer só com algumas criaturas flutuando ou crianças que não se parecem nem com vampiros nem espíritos malignos.
O roteiro e a montagem parecem ter sido prejudicados, ao menos em algum nível, pela indecisão do estúdio no que fazer com o projeto. Enquanto o começo do filme tenta se esmerar neste suspense e histórias paralelas da pequena cidade, do meio pro fim nem mesmo a jornada do protagonista se encerra de maneira satisfatória. O passado dele é esquecido, o caso dos pais e até a conexão romântica ganha importância demasiada sem muito contexto.
Quando a ação toma conta do filme, então - já no terceiro ato -, fica evidente que qualquer traço de suspense foi deixado de lado para focar em algo mais ágil, afeito à sustos repentinos e atos de heroísmo. São quase dois filmes em um só, com um vampiro e algumas outras presas para conectar um ao outro. É complicado dizer que ambos são eficientes, mas é compreensível que o lançamento chegue ao streaming ao invés do cinema, onde teria menos investimento e até menos atenção.
Na sala de casa, sem muito compromisso, talvez o pastiche sem vergonha que o remake entrega se encaixe melhor no oceano vermelho de conteúdo de plataformas de streaming.