Publicado originalmente em 1912, Tarzan é um icônico personagem da literatura e do cinema e adaptações de sua história não deixarão de existir. Desde a sua primeira aparição nas telonas em 1918, mais de 20 atores já viveram o homem da selva em filmes e em A Lenda de Tarzan chegou a vez de Alexander Skarsgård (True Blood), que tem Margot Robbie (Esquadrão Suicida) como sua Jane.
O longa tem uma premissa um pouco diferente daquelas que já conhecemos e segue John Clayton III (Skarsgård), agora um lorde britânico já adaptado à vida civilizada, que volta ao Congo para reportar o desenvolvimento das construções para o Rei Leopoldo da Bélgica. Mas um enviado americano, George Washington Williams (Samuel L. Jackson), revela que a questão não é bem essa e que a população congolesa pode estar sendo escravizada pelos belgas.
A ideia de trazer Tarzan de volta ao cinema mais uma vez, meros dois anos após uma outra adaptação que não agradou, não parece uma das melhores decisões. Mas aqui pelo menos algumas coisas funcionam: além da história que, apesar de ambientada na virada do século, trata de temas que continuam recentes como preconceito, ganância e acobertamento político; o entrosamento dos atores e as atuações em si levam a melhor.
Ainda assim, os problemas de A Lenda de Tarzan sobressaem às qualidades. Apesar do ótimo Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) viver o vilão Leon Rom, o personagem sobra na história quando o verdadeiro vilão, Chefe Mbonga (Djimon Hounsou), aparece somente poucos minutos em todo o filme. Com a trama dividida, o verdadeiro conflito de Tarzan com um antigo inimigo se perde em meio à ganância de Rom, que quer reconquistar o Congo para seu Rei.
Os efeitos visuais do longa, que se baseia somente nisso, também não impressionam. Os gorilas, bisões e até a floresta ao fundo não passam veracidade, tornando o visual, que deveria ser o ponto principal devido à imersão do longa na selva, pouco crível. A montagem das cenas também deixa a desejar, falhando em criar uma história coerente e fluida. Algumas cenas ficam desconexas em meio à complicada relação entre Tarzan, Leon e Mbonga.
Sarsgård, por sua vez, faz um ótimo trabalho como Tarzan. O ator parece mais confortável entre as árvores do que na civilização, voltando à sua personalidade original quando está em meio aos animais. É curioso notar sua postura ao longo do filme, que vai mudando sutilmente a cada cena, tornando-o mais selvagem ou mais civilizado.
A Lenda de Tarzan não é de todo um desperdício de verba, mostrando que há novas maneiras de contar a história do personagem - só era preciso aparar um pouco mais as arestas.