A Mulher de Preto 2: Anjo da Morte, a continuação do terror estrelado por Daniel Radcliffe em 2012 que ajudou a consolidar o retorno da produtora inglesa Hammer, começa tentando jogar com aquilo que era o ponto forte de A Mulher de Preto: contexto e ambientação.
A sequência transforma a casa mal-assombrada do primeiro filme em um abrigo-escola durante a Segunda Guerra Mundial, para onde são levadas crianças em idade de alfabetização. O fantasma dos bombardeios nazistas é o primeiro a aparecer aqui - assombração coletiva que acompanha o povo inglês em dezenas filmes no Pós-Guerra - e, como uma aparente regra a ser seguida, todos os personagens principais são marcados pelo luto.
Há a professora mais velha, intransigente, que endureceu com os anos depois de tantas perdas. Há a professora jovem, que trata seus alunos com instinto maternal, para compensar a perda de um filho seu. Há o piloto que enfrenta o típico estresse pós-trauma de guerra, e há o menino recém-órfão que, por sua condição fragilizada, se torna o objeto de atenção do espírito atormentado e vingativo da casa - único personagem que permanece do primeiro filme, 40 anos depois.
Retornam também algumas das marcas visuais que tornaram a ambientação do longa anterior tão opressiva - a maré, a névoa - e a ideia essencial de que o interior da Inglaterra (local só alcançado depois de longas viagens, como os dois filmes pontuam) guarda os traumas mais profundos da nação, como um vórtice. Mesmo a casa tem os mesmos cômodos mal-assombrados já conhecidos, locais que revisitamos com a expectativa sádica de já saber que hora virá o susto.
O problema de A Mulher de Preto 2 é, depois de identificar e reproduzir os trunfos do longa de 2012, a incapacidade de seguir seu próprio caminho. O roteiro Jon Croker se refugia na noção do trauma e do luto e só desenvolve seus personagens o suficiente para que a redenção deles fique bem demarcada - como a do piloto, que obviamente terá que enfrentar suas fobias até o fim do filme, e a professorinha, que evidentemente encontra no órfão um substituto do seu filho perdido.
Há muitas chances de redenção e pouco terror de fato em A Mulher de Preto 2, para resumir. A guerra, que no início parecia pairar no ar como um espectro, termina pouco mais do que uma justificativa para a volta da mulher de preto. Resta então a tal expectativa já conhecida e cumprida dos sustos - que encontra na protagonista Phoebe Fox não exatamente uma grande scream queen mas pelo menos um rosto angelical o suficiente para permitir ao espectador o prazer desse pequeno sadismo.
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