Apesar de estar presente na grande maioria dos maiores filmes de herói que permeiam o topo das bilheterias mundiais, o gênero da comédia parece ter sido deixado de lado nos últimos tempos. Dá pra contar nos dedos de uma mão os filmes lançados nesse ano por Hollywood que são puramente comédias, que não trazem qualquer traço trágico ou romântico à história - e eles ainda acabam recebendo pouca divulgação, além de também serem eclipsados por outras produções de maior orçamento ou maior expectativa do público. A Noite do Jogo chega para mostrar que ainda é possível fazer comédia para o cinema.
A primeira coisa que precisa funcionar em um filme como este é o elenco. Liderado por Jason Bateman e Rachel McAdams, que interpretam o casal ultra-competitivo Max e Annie, A Noite do Jogo acompanha um grupo de amigos que se reúne semanalmente para noites de jogos - até que o irmão de Max, Brooks (Kyle Chandler), chega para tentar incrementar o evento, mas acaba estragando tudo. É exatamente a afinidade entre todos os atores que faz com que o longa ganhe profundidade e que toda a trama de suspense funcione, criando tensão para o espectador do começo ao fim.
Toda a ideia por trás do filme é focar no absurdo da situação, introduzindo temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas. A premissa acompanha os amigos em uma nova experiência, uma noite do jogo mais extrema, na qual uma equipe contratada por Brooks vai fingir um sequestro e os outros integrantes do grupo precisam seguir pistas e encontrar o sequestrado. O grupo acaba dividido em duplas e quem chegar primeiro a dica final e, consequentemente, ao sequestrado, vence. É claro que dá tudo errado e é aí que começa a verdadeira piada.
Além de Bateman e McAdams, completam o elenco Lamorne Morris e Kylie Bunbury como o casal Kevin e Michelle; Billy Magnussen e Sharon Horgan, o amigo mais jovem do grupo, Ryan, e sua "namorada" mais velha e mais inteligente, Sarah; e Jesse Plemons como o esquisitíssimo vizinho Gary. Sem necessidade de precisar estabelecer vínculo entre todos, a química funciona desde o primeiro momento, que também já esclarece as personalidades de cada um e qual será sua função no andamento da trama.
A Noite do Jogo, porém, não se apoia somente na narrativa principal. São inúmeras piadas paralelas e recorrentes ao longo da duração do filme que trazem uma sensação ainda maior de familiarização com aqueles personagens. Até a novata Sarah se encaixa perfeitamente no grupo, adicionando a intelectualidade que faltava à superficialidade de Ryan.
O absurdo não é algo novo no gênero, o que acaba trazendo uma sensação de déjà vu à trama, que acaba com cenas similares à outras produções passadas, mas a direção de Jonathan Goldstein e John Francis Daley mescla muito bem o suspense à comédia. É perceptível a diferença na iluminação das cenas cômicas em comparação com as de ação e tensão: enquanto a comédia é clara e bem iluminada, mostrando os gestos corporais com clareza; os momentos de suspense mostram tomadas mais escuras, onde o foco da luz normalmente é voltado para o rosto do ator.
A Noite do Jogo é uma divertida comédia com inúmeras reviravoltas e cheia de ação que vale a pena ver. Cheio de surpresas, o filme rende boas risadas enquanto nos deixa genuinamente preocupados com o bem estar dos personagens em tela. Um dos bons filmes cômicos que faltava nos cinemas.