A Série Divergente tem todas as velhas cores futuristas: os hologramas, as telas transparentes, a tecnologia com controle por gestos e os figurinos sobriamente elaborados. Também apresenta os traços consagrados das distopias, com suas complexas formas de controle da sociedade em um mundo destruído pela guerra. Os arquétipos estão lá para a criação de uma ficção científica pós-apocalíptica, mas a franquia baseada nos livros de Veronica Roth não vai além da alegoria sobre a adolescência no século 21.
No primeiro filme Tris (Shailene Woodley) se transforma, como na passagem da infância para a puberdade. Em Insurgente, lida com uma das maiores dificuldades do amadurecimento: a aceitação de si mesmo. Com características de todas as facções - Candor (os honestos), Abnegation (os altruístas), Dauntless (os corajosos), Amity (os pacíficos) e Erudite (os inteligentes) - ela não se encaixa em nenhum lugar e acha que sua existência é um desserviço para o mundo.
A rebeldia é a grande mensagem da franquia. Na sua crise existencial, o adolescente descobre que não precisa aceitar as regras impostas pelo mundo, não precisa limitar a sua existência a valores ultrapassados. Com Tris e seus auto-questionamentos no centro, o público que ainda busca os caminhos da libertação cultural e sexual encontra voz. Descobre que é especial, não importa o que os outros digam.
A Série Divergente: Insurgente, porém, não passa dessas boas intenções. A importância desse inconformismo não se traduz cinematograficamente. Com três roteiristas para adaptar o segundo livro da trilogia literária de Roth - Brian Duffield, Akiva Goldsman e Mark Bomback - o filme permanece no estado de rascunho. Todos os personagens têm seus propósitos definidos para a conclusão da trama, mas não há nenhum detalhe ou traço de personalidade que lhes dê vida. Tris é o caso mais grave. Sua divergência deveria fazer dela uma heroína, mas falta carisma para carregar a sua razão de ser.
O diretor Robert Schwentke, assim como Neil Burger no primeiro filme, prefere focar sua atenção nos efeitos visuais vertiginosos. Bons atores passeiam por explosões, prisões de vidros e ruínas do velho mundo, sem nunca se conectar com os cenários e as cores frias que os cercam. Kate Winslet é a mais desconfortável com a situação, na pele de uma vilã que não consegue justificar nem para si mesma as suas intenções. Pensando em voz alta, a líder dos Erudite encarna a repressão, mostrando a incompreensão “adulta” perante o novo, o diferente. Já Naomi Watts parece mais à vontade como Evelyn, a líder dos sem facção, personagem que mostra que para sobreviver na era dos divergentes é preciso se desprender das velhas regras da sociedade.
Aos olhos do seu público-alvo, A Série Divergente: Insurgente funciona, com lições de resistência, superação e aceitação. Para quem já chegou à maturidade, contudo, 119 minutos no cinema precisam de mais do que mensagens de autoajuda para ganhar significado.
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