20th Century Studios/Divulgação

Filmes

Crítica

Com show de Kieran Culkin, A Verdadeira Dor discute relações através do luto

Jesse Eisenberg dirige comédia dramática sensível e estranhamente pessoal

12.10.2024, às 14H25.

Jesse Eisenberg é o tipo de ator que, ao longo de quase duas décadas de carreira, estabeleceu uma energia tão distinta que, mesmo que pareça interpretar o mesmo personagem em filmes diferentes, quase nunca entrega um trabalho aquém do esperado. Suas interpretações seguem as mesmas características – prolixo, irônico, ansioso e socialmente desconfortável -, mas em A Verdadeira Dor, seu segundo trabalho como diretor e roteirista, esta "persona" é responsável por colocar seu parceiro de cena, Kieran Culkin, no centro do palco.

Eisenberg interpreta David Kaplan, um jovem judeu casado, com filho e bem sucedido, que decide viajar com o primo Bejin (Culkin), desempregado e sem rumo, para a Polônia com o intuito de visitar a antiga casa de sua avó recém-falecida. A jornada entre os dois reacende sentimentos - positivos e negativos - de uma relação outrora muito próxima, mas também serve para que David tente entender o motivo de Benji, um sujeito que sempre iluminou os lugares por onde passa, ter tentado tirar a própria vida meses antes.

Culkin é o coração e alma do filme. Seu Benji é excêntrico e imprevisível, com uma personalidade dúbia que o faz se transformar da água para o vinho em questão de segundos. Embora o texto de Eisenberg nunca elucide a causa dos transtornos do personagem, fica evidente que Benji sofre com as dificuldades de lidar com a própria dor, seja ela pelo trauma da perda da avó, do distanciamento do primo ou das verdades do mundo real.

Eisenberg destaca essa "busca" pela verdadeira dor enquanto passeia pelas memórias de sua origem enquanto judeu em uma viagem estranhamente pessoal. Assim como o diretor, Benji e David são dois rapazes judeus que desvendam o passado de seu povo na Polônia durante a Segunda Guerra Mundial e no pós-guerra, fazendo de A Verdadeira Dor uma discussão sobre as nossas relações com o absurdo. Através do personagem de Cukin, as questões ficam evidentes: Podemos sorrir quando há tanta maldade no mundo? É honesto sentir-se feliz? Em meio a isso, David é incapaz de entender a dor de Benji, que usa a falta de traquejo social do próprio primo como um trampolim para fugir de sua agonia.

É preciso equilíbrio emocional e generosidade de espírito para que um cineasta explore uma história dolorosa como a do Holocausto, ao mesmo tempo em que fornece caminhos de acesso sutis para que públicos de origens totalmente diferentes se encontrem no meio do caminho. Ao reconhecer a universalidade de seus temas principais, Eisenberg faz isso com maturidade comovente. Enquanto diretor, ele não cede ao uso do espetáculo visual para retratar a emoção de uma visita ao campo de concentração; o foco na expressão do elenco e a ausência de trilha sonora fazem destas sequências as mais sensíveis de todo o longa.

Com A Verdadeira Dor, Jesse Eisenberg demonstra grande habilidade em equilibrar seu humor sarcástico com delicadeza necessária em um filme cheio de sentimento, no qual nenhuma emoção é imerecida. Mas é Kieran Culkin, como um verdadeiro craque do jogo, que coloca luz nas questões mais profundas do filme com uma atuação digna de Oscar. No fim, o longa é uma amostra de que seus astros estão prontos para buscar um lugar no panteão dos principais nomes de Hollywood na atualidade.

O repórter assistiu ao filme no 26º Festival do Rio. A estreia nos cinemas está prevista para 23 de janeiro de 2025.

Nota do Crítico
Ótimo