A Vida em Si/Amazon Studios/Divulgação

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Crítica

A Vida em Si

Filme usa discurso sobre a falta de sentido da vida para justificar uma história preguiçosa

04.12.2018, às 13H30.

This Is Us se tornou uma das séries de maior sucesso nos EUA e no mundo ao falar de histórias reais e traumas com uma grande sensibilidade. Por isso, quando o showrunner Dan Fogelman anunciou que estava trabalhando em um drama para o cinema, a expectativa dos fãs foi bem alta. Infelizmente, tudo o que ele coloca de bom em This is Us tem efeito contrário em A Vida em Si.

Quando a produção começa, há uma brincadeira sobre quem é o protagonista. Com um narrador que fala tanto com os personagens, quanto com o público, o filme brinca com o formato cinematográfico e demora para realmente começar sua história. Dá para imaginar que Fogelman quis brincar com isso ao fazer seu primeiro longa-metragem, mas o recurso não é positivo porque não tem função narrativa e é deixado de lado rapidamente.

Quando finalmente chega ao protagonista, interpretado por Oscar Isaac, o longa demora 40 minutos em uma grande introdução, apenas para dizer que aquela não era a história principal. Nesse ponto, como é de se imaginar, o público já está cansado de tantas idas e vindas e começa a se questionar qual é, afinal, a história que será contada. Fogelman responde essa pergunta da pior forma possível, ao colocar na boca de uma personagem um grande discurso sobre o “narrador não confiável” e como uma mesma história pode ser diferente de acordo com quem está contando. Sim, ele explica o filme e suas motivações da forma mais didática possível, como se não acreditasse que seu público poderia entender isso sozinho.

Assim como em This is Us, A Vida em Si conta várias histórias que têm alguma ligação, e explora os traumas e problemas dos protagonistas. Mas enquanto isso é feito com extrema delicadeza na série de TV, o filme joga cenas fortes e escandalosas em um desespero para extrair emoções no público. A narrativa não tem espaço para se desenvolver naturalmente, já que o roteiro força ações rápidas e sem motivos. O argumento para isso, novamente explicado de forma completamente didática, é que a vida não tem sentido algum, as coisas acontecem ao acaso e ninguém tem certeza de nada. Esse formato também prejudica os atores, que exageram em suas performances para entregar todas as reviravoltas da trama.

A sensação que fica é que, após receber tantos elogios por This is Us, Dan Fogelman distorceu sua própria fórmula em um grande desperdício de tempo para ele e seu público. A vida é efêmera? Sim, mas isso não é justificativa para não trabalhar a narrativa e entregar ao público um longa confuso e cansativo, que conta várias histórias e nenhuma ao mesmo tempo.

Nota do Crítico
Ruim