Tivesse sido dirigido por qualquer outro, Aliados seria mero suspense barato. Nas mãos de Robert Zemeckis, porém, a trama de romance e espionagem aproveita o cenário da Segunda Guerra Mundial em planos elaborados e não desperdiça o seu paralelo com o clássico Casablanca - a cidade marroquina do reencontro de Rick Blaine (Humphrey Bogart) e Ilsa Lund (Ingrid Bergman) também abriga o encontro dos espiões Max Vatan (Brad Pitt) e Marianne Beauséjour (Marion Cotillard).
O acerto visual se perde na preferência do roteirista Steven Knight pela tensão novelesca: a esposa de Vatan é ou não uma traidora nazista? O personagem empaca na incapacidade de Pitt de lidar com um papel introspectivo, enquanto Cotillard dá camadas a Marianne desde a sua primeira aparição. Seu guarda-roupa impecável e delicado (indicado ao Oscar e assinado por Joanna Johnston) traduz a sua capacidade de dominar ambientes, situações e armas pesadas.
Ou seja, por mais que Marianne se mostre intrigante, colocando em dúvida suas intenções mesmo em momentos de entrega, Pitt não dá consistência ao drama do homem que pode ter se apaixonado pelo inimigo. Sua dúvida cruel acaba sem importância enquanto a personalidade da sua esposa e possível opositora chama por outro filme, capaz de verdadeiramente explorar a psique de um espião, que faz da mentira a sua sobrevivência, mas nunca consegue viver de verdade.
Aliados poderia ser tão avassalador quanto a proposta que fica nas suas entrelinhas. Zemeckis evita torná-lo dispensável, mas não eleva o longa a outro patamar. Fica apenas o entretenimento seguro, bem filmado, com uma história de amor em cenário hostil, temperado com um leve mistério e dois protagonistas exageradamente bonitos. Fim.