Ridley Scott voltou ao universo de Alien para explicar, em Prometheus, quem são os Space Jockeys da nave mostrada no filme de 1979. Agora em Alien: Covenant seu impulso é similar: explicar como a criatura assassina da franquia ganhou sua forma icônica. A vantagem desta vez, pelo menos, é que não é uma explicação oblíqua como a de Prometheus e sim uma ponte direta com a trama do Alien original.
Além de interpretar outro androide, Michael Fassbender retorna ao papel do robô David, numa trama que se passa alguns anos depois do fim de Prometheus. A ligação é ostensiva com o longa anterior, embora o elenco se renove e a trama seja uma narrativa antocontida de horror: a tripulação da nave Covenant busca expandir os limites da humanidade pelo espaço mas mexe com o desconhecido e paga o sangrento preço por esse desafio. Se Prometheus enveredava mais pela ficção científica clarkeana com toques místicos, Alien: Covenant se contenta com o modesto cautionary tale.
Tudo isso não seria um demérito, se Ridley Scott demonstrasse ao longo de Alien: Covenant que realmente fazer só um filme moral de horror espacial lhe basta. O cineasta não parece, porém, muito interessado em seguir as regras do gênero que ajudou a popularizar; as cenas de matança do Alien frequentemente se resumem ao pós-morte e Scott evita se entregar por completo ao sadismo que se esperaria do seu conto moral. Nesse sentido, o recente Vida, um exploitation espacial despudorado que é equivocadamente visto como um sub-Alien, é um filme muito mais inspirado e recompensador.
Ao desinteresse com que Scott pensa e realiza suas cenas de horror se soma o subaproveitamento do ótimo elenco. Sua protagonista Daniels (Katherine Waterston) é uma versão recauchutada de Ripley com um arco dramático de superação menos sutil que o da protagonista do original, e ao resto da tripulação cabe apenas reagir de forma estúpida ao perigo, seja metralhando tanques explosivos, agindo com displicência em atmosfera selvagem ou simplesmente metendo a cara onde não deve. O fato de Alien: Covenant desperdiçar a chance de reunir James Franco e Danny McBride em cena já diz bastante sobre seu senso de oportunidade.
Em compensação, Fassbender faz os melhores androides que a franquia já teve, num longa que acaba consumando uma tendência que já era vista desde 1979: são os androides de Alien os canalizadores de toda a discussão que os filmes promovem sobre a aproximação de homem com Deus, nos quais a criatura assassina do espaço personifica o castigo divino. Não é por acaso que Scott retornou à franquia pegando para si o mito de Prometeu, e Fassbender consegue dar aos seus personagens a dimensão trágica que esse diálogo com a grandiosidade grecoromana exige.
O saldo, porém, é bastante discutível. Alien: Covenant fica muito abaixo do filme de 1979 como experiência de horror e claustrofobia, e no fim das contas acaba servindo a um propósito muito funcional de tapar lacunas que até hoje se preencheram com pavor e mistério. Não deixa de ser irônico que, ao acabar com os encantos que cercam o Alien, o filme tire o sentido do próprio nome Xenomorfo. "Xeno" significa estranho, estrangeiro, e depois de Covenant tudo o que resta é a familiaridade.