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Crítica

Ameaça no Ar recorre a conveniências para justificar sua trama superficial

Filme de Mel Gibson se esforça para cativar por seus momentos de tensão, mas peca pela falta de sentido

Pedrinho
24.01.2025, às 22H24.
Atualizada em 24.01.2025, ÀS 22H36

Após os sucessos de Coração Valente (1995), A Paixão de Cristo (2007) e Até o Último Homem (2016), é normal ficar empolgado por um filme dirigido pelo veterano Mel Gibson, ainda mais com Mark Wahlberg no elenco. A dupla possui currículos aclamados e trabalhos que passam confiança a qualquer um. Entretanto, isso não se confirma em Ameaça no Ar, que reúne novamente a dupla de Prova de Coragem: A História do Padre Stu e Pai em Dose Dupla 2, vai contra todas as expectativas.

No longa, Wahlberg interpreta um piloto que leva um criminoso, Winston (Topher Grace), para ser julgado. Toda a divulgação do filme, inclusive os pôsteres, levam a crer que o astro teria protagonismo na história, mas o roteiro segue por outro caminho. A trama foca na policial recém-reabilitada Madelyn Harris (Michelle Dockery) e a relação com que ela constrói com o criminoso, deixando Wahlberg como uma peça de decoração cara e muitas vezes inutilizada.

Basicamente, o personagem de Wahlberg é um criminoso cruel, implacável, que sabe lutar com facas, atirar e pilotar um avião, mas é facilmente aplacado por armas de choque e extintores de incêndio. Sem nome nem qualquer motivação forte o bastante, ele está decidido a abusar, violentar e vilipendiar a policial e o prisioneiro. Até mesmo derrubar com ele mesmo dentro é cogitado pelo vilão. Ele é um cara mau.

Para contrabalancear toda essa vilania sem explicação, a personagem de Dockery é a personificação bondade. Correta, protocolar e extremamente obediente, nada poderia abalar sua integridade, nem mesmo o trauma de ter perdido sua última prisioneira, assassinada violentamente, anos antes dos eventos do filme. Por isso, ela precisa fazer de tudo para proteger Winston.

Não há muito mais o que dizer sobre os personagens, afinal, o filme também não diz. Entre um erro de continuidade e outro, o espectador recebe a missão de interpretar alguns elementos, enquanto outros ele precisa criar na própria imaginação. Esse fator talvez não seria ruim se o terceiro ato do filme não fosse bombardeado por novos personagens teoricamente importantes — mas que nem aparecem na tela.

Quando o filme parece encontrar seu ritmo e razão de existir, as coisas voltam a perder o sentido. Com a protagonista tendo que pilotar um avião pela primeira vez enquanto luta contra um psicopata e mantém um refém vivo, a trama decide dar um passo maior do que a própria perna. A trama mafiosa inicial é substituída por uma grande conspiração policial, envolvendo desde a chefe de Harris até o diretor-geral. Nesse ponto, o filme parece contar outra história.

Para dar sentido a essa sopa de letrinhas, Jared Rosenberg, que faz sua estreia como roteirista, inclui diversas conveniências ao longo do filme. Frases soltas durante as poucas horas de convivência entre o trio começam a explicar teorias que passam pela cabeça da protagonista pela primeira vez e de uma agente confusa que esqueceu que o próprio celular possuía sinal de satélite, ela se torna uma investigadora digna de CSI.

Apesar de todos esses fatores, a direção de Mel Gibson mantém um tom de suspense e a qualidade do filme. Graças a ele, a produção encontra seus momentos de tensão e ação de tirar o fôlego. As imagens aéreas, bem como as lutas entre a policial e o vilão de Wahlberg — que escapa todas as vezes que é contido, têm seu mérito e promovem um entretenimento de qualidade.

Simples e cheio de tropeços, Ameaça no Ar definitivamente não é um filme para quem busca qualidade, mas pode entreter quem aceita seus defeitos. Com personagens mal desenvolvidos e uma trama rasa, o filme dispensa grandes conclusões e foca suas energias em criar pretextos para uma sequência.

Nota do Crítico
Regular