James Wan tem dois superpoderes na indústria cinematográfica: assustar e transformar módicos orçamentos em franquias lucrativas. Desde 2004, com Jogos Mortais, seu toque de Midas segue agregando valor a filmes baratos, criando novos parâmetros para relação entre investimento e retorno financeiro em Hollywood.
Depois de Invocação do Mal (uma bilheteria de US$ 318 milhões para um orçamento de US$ 20 milhões), nada mais natural do que continuar a explorar a nova fonte de sucesso. Desta vez, além da continuação, prevista para outubro de 2015, Wan resolveu diversificar, explorando em um derivado as origens da boneca vista no início do filme sobre os demonólogos.
Annabelle
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Ocupado com a direção de Velozes & Furiosos 7, delegou a direção de Annabelle ao colega John R. Leonetti, que cuidara da fotografia de Invocação do Mal e dos dois filmes da série Sobrenatural. A produção, porém, manteve as suas marcas: o baixo custo (oficialmente US$ 6,5 milhões), as figuras demoníacas (sempre interpretadas por Joseph Bishara), a habilidade de mostrar essas bestas em cena e a sua obsessão pelos grandes olhos dos bonecos de ventríloquo - o que explica o visual da personagem-título, assustadora mesmo antes de ser possuída pelo demônio.
Além de fazer referência ao trabalho de Wan, Annabelle se compõe por pequenas homenagens a clássicos do terror, de O Bebê de Rosemary a Pânico. O filme de Roman Polanski, por exemplo, aparece em diversos momentos do longa, que batiza sua protagonista em homenagem a Mia Farrow, situa seus personagens em um prédio (com porões e elevadores) e usa o clássico carrinho de bebê como elemento narrativo. Em meio a esses “eater eggs”, Leonetti consegue trabalhar bem a presença estática da boneca, evitando que ela se transforme em um brinquedo assassino. São os grandes olhos que mostram as intenções diabólicas de Annabelle.
O filme chega a flertar com questões mais profundas, como a maternidade e a força da ligação entre mães e filhos. Intenções nobres que esbarram nas limitações do elenco, encabeçado pelos quase desconhecidos Annabelle Wallis e Ward Horton. Os dois nunca se perdem nas emoções, estão sempre conscientemente atuando, sustos ou demonstrações de afeto. São profissionais, mas também artificiais. Lea, a filha de poucos meses do casal, acaba sendo a personagem com mais carisma do longa.
Como sua origem previa, Annabelle não é um produto original. Ainda assim, seu resultado é satisfatório. Chega aos aguardados sustos, mesmo que muitas vezes trapaceando pela manipulação da altura do som, e tem algumas cenas memoráveis (a melhor delas infelizmente desperdiçada nos vídeos de divulgação). O terceiro ato, porém, é preguiçoso. O roteiro de Gary Dauberman escolheu um caminho didático e cristão para fechar a história que já tinha como desfecho certo uma caixa de vidro devidamente abençoada no museu de Ed e Lorraine Warren. Basta saber se agora Wan vai libertar a boneca para criar a franquia da franquia.