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Argo | Crítica

Quando Hollywood salvou a pátria... de verdade

06.09.2012, às 21H34.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H25

Ben Affleck ainda está totalmente apaixonado por Hollywood. Em Argo, seu terceiro filme como diretor, o roteirista e ator explora um dos momentos mais surrealistas já vividos na história do cinema - e também da espionagem dos EUA.

Argo filme

Argo filme

O filme se passa em 1979, durante a chamada Crise de Reféns no Irã. Com a recusa do governo dos Estados Unidos de entregar oxá Reza Pahlevi, deposto pelo aiatolá Khomeine, as massas furiosas invadiram a embaixada estadunidense, fazendo 54 prisioneiros. Seis funcionários, porém, conseguiram escapar, refugiando-se na casa do embaixador canadense em Teerã.

Desesperada para extraí-los do país, a CIA aceitou o plano de um agente secreto, Tony Mendez (interpretado por Affleck), que consistia na criação de um filme falso ("a melhor ideia ruim que temos"). Equipes de produção costumam viajar para lugares exóticos em busca de locações, o que explicaria a (suposta) entrada e saída breve do grupo do Irã e o interesse pelo país em crise política.

Eram os anos 1970, quando as comunicações dependiam do bom e velho telefone fixo e não existia qualquer controle de imigrantes via tecnologia, o que explica o absurdo da operação. Afinal, a ideia hoje parece tão improvável quanto o filme falso dentro do filme baseado em fatos, Argo, uma ficção científica descaradamente copiada de Star Wars, que realmente circulava os corredores de Hollywood na época.

Ironicamente, portanto, a única verdade do plano era a existência de um projeto falso. A ideia não podia passar em branco em uma indústria que vive justamente disso - de projetos que raramente vão adiante, mentiras que justificam um negócio de bilhões.

Pois Affleck, em sua melhor forma como ator e cada vez mais confiante e maduro como diretor, tomou para si a responsabilidade de contar essa história verídica, mas não sem aproveitar também para criticar e caçoar de leve da própria indústria que tanto deixa claro admirar (a cena dos produtores sob a caixa d'agua da Warner Bros. é prova disso, já que o ícone hollywoodiano surge como se fosse uma bandeira ao fundo, um tapinha do estúdio nas suas próprias costas).

Há humor aproveitando as manias da indústria - o que, novamente evidencia as mentiras e dissimulações do sistema -, mas é na construção de tensão que Affleck se prova mais uma vez capaz como diretor. A cada momento em que parece que o filme vai ficar cômico demais, somos lembrados a seguir da urgência da situação.

Cercado de profissionais competentes (em especial o diretor de fotografia Rodrigo Prieto, a designer de produção Sharon Seymor e a figurinista Jacqueline West) e com um elenco de qualidade (John Goodman, Alan Arkin e Bryan Cranston se destacam), Affleck faz em Argo seu melhor trabalho até aqui, trazendo à memória grandes filmes políticos setentistas, como Todos os Homens do Presidente e Os Três Dias do Condor.

Argo | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo