A frase “para a família toda” e a variação “para todas as idades” são usadas à exaustão para promover filmes infantis e não é de hoje. Mas são poucas as produções do gênero que de fato atingem essa variedade de público como As Aventuras de Paddington 2. Em mais um capítulo das bagunças desse urso fofo em Londres, o novo membro da família Brown é mandado injustamente para a prisão - para a alegria do sr. Curry -, mas nem por isso desiste de acreditar no lado bom das pessoas.
Ansioso para o aniversário de 100 anos da tia Lucy, Paddington encontra o presente perfeito no antiquário do sr. Gruber (Jim Broadbent): um livro 3D com os principais pontos turísticos da capital inglesa. Mas ele não é o único interessado em levar essa raridade para casa. Phoenix Buchanan (Hugh Grant), um ator fracassado que mora no começo da rua, sabe que a obra, na verdade, é uma espécie de mapa do tesouro e não está disposto a perder essa oportunidade por causa do urso dos Brown.
Novamente com uma leve dose de ironia e, claro, com a inocência característica de Paddington, o diretor Paul King volta a usar brinquedos analógicos como recursos para contar essa nova história. Tratando a cadeia como uma espécie de casa de bonecas, por exemplo, vemos o desenrolar de um plano de fuga andar a andar da instituição. Já o sonho do protagonista de trazer sua tia para a Inglaterra invade as páginas do livro 3D. Mas o mundo pré-digital não aparece somente como recurso narrativo. Na realidade, ele permeia toda a caracterização dos personagens, desde o interesse jornalístico de Judy (Madeleine Harris) e as engenhosas habilidades com o trem a vapor de Jonathan (Samuel Joslin) até o encantador circo itinerante que coloca vilão e herói frente a frente pela primeira vez.
Essa atmosfera nostálgica também se dá pela fotografia do diretor Erik Wilson, responsável não somente pelo primeiro longa, como também por Submarine. Com o trabalho impecável do departamento de arte, ele privilegiou as cores e deu um toque indie à produção, que a torna, ao mesmo tempo, tão lúdica e interessante.
O grande destaque do filme, porém, fica a cargo da atuação de Hugh Grant. Caricato e sem medo de fazer piada de si mesmo, ele encarna a excentricidade de Phoenix Buchanan e dá vida a todos os disfarces do ator, da freira ao cavaleiro medieval. Ao final, o grandioso número musical só confirma o que você já sabe desde a primeira aparição do personagem: está aí um vilão que amamos odiar.
De um jeito despretensioso, leve e bem-humorado, As Aventuras de Paddington 2 encanta adultos e crianças com suas particularidades e volta a mostrar que ser um pouco otimista não faz mal nenhum.