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Os executivos em Hollywood adoram uma tragédia. Infelizmente, elas servem de premissa para diversos tipos de produções. Da mesma forma que a 2ª Guerra Mundial e as guerras da Coréia e do Vietnã levaram uns cinco anos para atingir a telona, o fatídico 11 de setembro agora chega com força total aos cinemas. Documentários sobre o assunto chegaram antes, mas As Torre Gêmeas (World Trade Center, 2006) é a primeira grande produção com elenco estelar.
A história é baseada em fatos verídicos e focada principalmente no Sargento John McLoughlin e no oficial Will Jimeno, que ficaram presos por toneladas de concreto quando as torres do World Trade Center desmoronaram em Nova York. Eles entraram na torre para ajudar na evacuação. Em minutos eles passaram de heróis a vítimas. A narrativa se concentra no inferno em que eles se encontraram. Completamente sem movimentos, precisaram se manter acordados e sãos numa tentativa desesperada por sobrevivência. Mas o filme não fica preso lá embaixo junto com os dois. Paralelo ao sofrimento dos policiais, vemos a angústia das suas esposas e das equipes de salvamento.
O roteiro de Andrea Berloff é um verdadeiro achado. Mesmo com um tom de novelão em certas passagens, Andrea é rigorosa em mostrar o que realmente aconteceu na visão limitada dos envolvidos. Com essa abordagem, o espectador se sente próximo dos homens e mulheres e suas perspectivas variadas. Tudo isso auxilia a compreensão das imagens da tragédia. A visão de McLoughlin e sua equipe marchando em direção ao prédio em chamas é surreal: chuva de papéis e cinzas, ameaça dos escombros vindos do céu e a visão aterrorizante de uma pessoa pulando do prédio. E pela primeira vez nos sentimos entrando no prédio quando ele desabou. A visão é assustadora. Impossível não se sentir angustiado.
Olhares muito além da visão
O elenco está soberbo. Nicolas Cage e Michael Pena (o chaveiro de Crash - No Limite) presenteiam o público com uma performance arrebatadora, em que atuam usando somente os olhos e as expressões faciais, já que eles passam quase toda a projeção incapacitados de mexer do pescoço para baixo. Dá para acreditar que ambos os atores conseguiriam sustentar todo o filme atuando simplesmente de forma verbal. Teria sido uma ousadia artística se Stone tivesse mantido o público na cova com os dois, mas seria também insuportavelmente opressivo. E isso só aumenta a importância de Maria Bello e Maggie Gyllenhaal, que completam o elenco principal fazendo as esposas. As atrizes empreendem dignidade ao sofrimento vivido sem se tornarem piegas.
Vale dizer que o filme não tenta apontar os culpados ou mesmo ser um instrumento de patriotismo norte-americano. O diretor Oliver Stone, inteligentemente, não tenta construir suas costumeiras teorias da conspiração. Sua câmera limita-se a registrar os acontecimentos do dia fatídico - bem diferente dos seus habituais caprichos estéticos. Talvez saiba que seria impossível montar todas as peças do quebra-cabeças em relação à tragédia. A grande sacada foi ter sido fiel à história de McLoughlin e Jimeno.
Além disso, Stone trabalhou com uma equipe internacional: cenários criados pelo alemão Jan Roelfs, fotografia do israelense Seamus McGarvey e trilha sonora do compositor escocês Craig Armstrong. Com essas escolhas percebemos que o objetivo era retratar os eventos ocorridos no dia 11 de setembro sob perspectivas estrangeiras. E a verdadeira mensagem se concentra na forma em que pessoas de diferentes credos, raças e convicções políticas tendem a se unir nos momentos de tragédia, sacrifício e ternura. Mais otimista, impossível.