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Crítica

Bagagem de Risco é almoço de natal com as sobras da ceia e isso é ótimo

Jaume Collet-Serra comanda um carismático Taron Egerton contra o excelente vilão de Jason Bateman

16.12.2024, às 18H55.
Atualizada em 16.12.2024, ÀS 19H12

Sabe aquele almoço pós-natal, a família toda reunida, aquele monte de comida pela metade formando uma misturada no prato, mas que no final todo mundo se farta, ri com as piadas do tio e a maioria sai de lá de bem com a vida? Bagagem de Risco, novo filme da Netflix, dirigido por Jaume Collet-Serra é tipo isso. Uma grande junção de várias outras ideias que, com a boa direção e o talento dos dois nomes principais do elenco, se torna uma ótima opção dentro dos lançamentos com temática de fim de ano em 2024. 

Sim, Bagagem de Risco, assim como sua inspiração máxima, Duro de Matar, também é um filme de natal - ou quase isso. Acompanhamos a história de Ethan Kopek (Taron Egerton), um jovem agente da Segurança de Transportes, do aeroporto de Los Angeles, que em um dos dias mais movimentados do ano, a véspera do natal, acaba envolvido em na trama para colocar uma arma química em um dos aviões que de lá sairão. Ele recebe um fone de ouvido e, orientado pelo personagem de Jason Bateman, precisa deixar que uma mala passe no raio-x sem alarde. Caso não obedeça, a namorada, que descobriu na noite anterior estar grávida, corre risco de vida.

Essa briga de gato e rato entre Egerton e Bateman - ambos ótimos e Bateman, inclusive, deveria focar mais nessa ideia - é a grande diversão de Bagagem de Risco e emula, claro, Bruce Willis contra Alan Rickman. Mas, o filme também toma um grande tempo sem nunca mostrar a cara do vilão e o suspense é criado pela dúvida da vigilância e as muitas atitudes que o mocinho tomará sob suas ordens. Nisso, Collet-Serra se aproxima do ótimo Por um Fio, de Joel Schumacher, e a agilidade com que os fatos acontecem, se resolvem e criam outros novos. Sem dar tempo para criticarmos certas escolhas ou imaginarmos saídas mais fáceis para o roteiro, o diretor vai criando a trama rocambolesca e adicionando novos elementos, tanto no plot da mala com a arma química, quanto da investigação sobre o suposto atentado, comandada pela policial interpretada por Danielle Deadwyler.

Collet-Serra tem em sua filmografia bons exemplos de suspenses com protagonistas tendo que lidar com alguma chantagem em situações de risco, como O Passageiro e Sem Escalas, ambos com Liam Neeson. Em Bagagem de Risco, ele continua mostrando que tem amplo domínio das cenas e da construção dessa tensão, baseada em elementos do nosso cotidiano ou do ambiente em que o personagem principal está inserido. Da repetição de situações, como as esteiras do raio-x no aeroporto parando e voltando a funcionar, ao uso de smartphones e smartwatches para tentar comunicação, uma perseguição no meio das esteiras de bagagem e um plano longo de luta dentro de um carro em movimento (e com um CGI bem duvidoso, diga-se), tudo funciona seja para o entretenimento ou  para a própria experiência da narrativa. O diretor brinca com telas de eletrônicos sobre a tela do filme, cola shots com transições digitais e tudo reforça o movimento constante e a agitação, tanto do aeroporto, quanto da véspera do natal.

Talvez nunca cheguemos a colocar Bagagem de Risco nas mesmas discussões de “é filme de natal?” de Duro de Matar, Máquina Mortífera ou mesmo Homem de Ferro 3 e isso é muito por culpa da efemeridade dos lançamentos em streaming. Mas ele entra sim, no mesmo bolo de contos de ação e suspense que se aproveitam da mensagem natalina. E a verdade é que o filme de Jaume Collet-Serra tem, assim como os citados acima, as mesmas características das comédias românticas tão adoradas para a data: o casal em uma situação extrema e a tentativa de que tudo fique bem antes da ceia. Bagagem de Risco pode até ser a ceia das sobras do dia seguinte, mas ainda continua uma delícia.

Nota do Crítico
Ótimo