Coulrofobia é o medo que algumas pessoas sentem dos palhaços. Para quem cresceu indo ao circo e dando risadas com cada tombo e torta na cara, pode ser um medo que não faz muito sentido. Mas pare para pensar no estrago que um cara com roupas todas coloridas, cara branca, nariz vermelho e um enorme pé pode fazer à vida de uma pessoa. Aliás, não é preciso imaginar. Basta assistir ao filme espanhol Balada do Amor e do Ódio (Balada Triste de Trompeta, 2010), de Alex De La Iglesia.
Balada do Amor e do Ódio
Balada do Amor e do Ódio
Balada do Amor e do Ódio
Os palhaços criados por De La Iglesia são, no mínimo, tão psicopatas quanto o Coringa e levarão o seu amor por Natalia (Carolina Bang) a níveis que ultrapassam qualquer piada de mau gosto.
O filme começa com um tom político, ambientando-se no início da Guerra Civil Espanhola que colocou no poder o general Franco. É ali que o pequeno Javier vê seu pai e as demais pessoas que trabalhavam no circo sendo forçadas a participar da luta armada. A cena já prepara o espectador para a barbárie que vem a seguir, com um palhaço correndo com um facão na mão, cortando gargantas enquanto muito sangue digital jorra na tela.
Anos mais tarde, encontramos o Javier adulto (Carlos Areces), em seu primeiro dia no circo. Ele será o novo palhaço-triste, o "escada" que arma a situação toda para que seu parceiro de picadeiro consiga arrancar as gargalhadas das crianças. Javier está seguindo não apenas a carreira de seu pai, mas também o seu conselho de que ele não poderia ser outra coisa que não o palhaço triste, devido à sua infância sem a mãe e, depois, longe também do pai.
Enquanto conhece as outras pessoas e animais do circo, Javier se apaixona pela linda trapezista Natalia. Conhece também seu namorado, o psicopata Sergio (Antonio de la Torre), um cara que não gosta de ser contrariado, bebe sempre mais do que deveria, é ciumento, mas tem verdadeira devoção à sua profissão de alegrar as crianças. Forma-se assim o triângulo amoroso que vai levar o filme a situações inimagináveis de violência extrema e outras atrocidades.
A estética do filme é tão exagerada e artificial que fica difícil não comparar com um Sin Citycom menos dinheiro. A fotografia não chega a ser totalmente em preto e branco, mas os cinzas são tão abundantes que quando algo mais vermelho aparece em cena, se destaca mais do que batom em colarinho de marido descuidado.
De início, a narrativa quebrada, com frenquentes pulos de tempo e espaço causa estranheza. Na verdade, você dificilmente vai se acostumar a ela, mas depois de uma hora de exibição, o longa vai a um extremo tão distante, que tudo isso pode até ser esquecido. E é justamente quando se percebe que o caos criado não tem fim é que tudo ganha um certo sentido - se é que isso faz sentido. O completo nonsense de um amor não correspondido, um amor odioso e uma falta de amor próprio servem para mostrar o terror que é a vida de quem ama e está disposto a fazer de tudo para ser amado de volta.
A completa falta de freio que pode fazer tanta gente largar o filme no meio é também o seu grande mérito. Uma grande palhaçada que é tão diferente de tudo que nem todo mundo vai curtir.
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