As melhores fases do Capitão América nos quadrinhos colocam o chamado "Sentinela da Liberdade" em confronto com sua própria origem. Fruto de uma época mais simples, em que o mal era fácilmente identificável pela suástica invertida no ombro, o super-herói vestido com a bandeira dos Estados Unidos representa um ideal patriótico americano tão ultrapassado quanto seus 73 anos de idade.
capitão américa
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Sempre foi difícil relacionar-se com um personagem tão centrado na política dos EUA - que migra muito mal para mercados internacionais. Mas há algum tempo a Marvel Comics, cujo apreço ao lucro, na melhor tradição do capitalismo que tem nos EUA seu maior representante, aprendeu a colocar essa bandeirosa figura justamente como um antagonista do governo, uma voz contestadora e representativa daqueles dias menos cinzentos.
A estratégia funciona nas páginas e agora migra também para as telas. Capitão América 2 - O Soldado Invernal aproveita exatamente o olhar crítico de um homem dos anos 1940 sobre os EUA de hoje. Steve Rogers (Chris Evans) continua um soldado, mas enquanto anota em seu caderninho os ícones da cultura pop que não viu surgir durante seu congelamento, também depara-se com mudanças drásticas no que os EUA passaram a representar.
O filme do Marvel Studios fala de vigilância, guerra ao terror e o Ato Patriótico, que dá poderes aos departamentos de espionagem como medidas preventivas de ataques. Nada melhor, portanto, que usar a S.H.I.E.L.D. de Nick Fury (Samuel L. Jackson), a maior organização de espionagem da Marvel, como pano-de-fundo para uma trama repleta de reviravoltas, segredos governamentais e conspirações.
Na história, depois de uma missão nebulosa, o Capitão América e a Viúva Negra (Scarlett Johansson) deparam-se com uma realidade inesperada dentro da organização em que trabalham, além de uma nova ameaça mascarada, o ciborgue Soldado Invernal. Assim, partem ao lado de um novo aliado, o Falcão (Anthony Mackie, ótimo em ação), para impedir uma potencial catástrofe.
Não é por acaso que o filme está sendo comparado aos thrillers de espionagem da década de 1970 (algo que a presença de Robert Redford só faz reforçar). A inspiração do roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely é clara. Mas a aura de diversão, que mistura ação e humor, que já virou uma marca registrada do estúdio, faz-se presente. Pode respirar aliviado quem estava com receio que a onda realista de filmes de super-heróis chegasse à Marvel. Os temas podem ser sérios, mas os arroubos fantasiosos e explosivos, repletos de tiradas bem-humoradas, seguem intactos.
Os produtores ainda erram na apresentação, porém. A insistência nos ingressos mais caros do 3D, em mais uma desnecessária conversão que nada agrega à experiência, poderia ser revista. Nada contra o formato, mas os filmes precisam ser melhor pensados para valer o dinheiro extra.
Decisões financeiras à parte, os diretores Joe e Anthony Russo garantem um ótimo equilíbrio entre os elementos, explorando muito bem cada personagem, dando peso à pancadaria e, na tradição da "Casa das Ideias", encontram espaço de sobra para ampliar o universo cinematográfico Marvel com um sem-fim de menções a outros personagens. A empresa segue assim dando aos seus fãs exatamente o que eles querem ver nos cinemas e um Sentinela da Liberdade isento de afiliações, fazendo jus ao seu epíteto.
OmeleTV #267 | Cinco perguntas COM spoilers sobre Capitão América 2