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Crítica

Capitão América: Guerra Civil | Crítica

Batalha épica entre os heróis da Marvel é apenas o caminho para algo maior

13.04.2016, às 18H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Capitão América: Guerra Civil é um filme de muitas missões. A primeira é cumprir a expectativa em torno de seu título, que promete adaptar ao cinema um importante arco da história recente dos quadrinhos. Mais do que fidelidade, os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely buscaram inspiração nas páginas criadas por Mark Millar e Steve McNiven, concentrando seus esforços na temática de responsabilidade da HQ. Quais os direitos e deveres do ser superpoderoso? Tem ele culpa nos danos colaterais da salvação do mundo?

É o erro de um dos heróis que inicia a discussão. Com o tratado de Sokóvia na mesa, propondo a regulamentação e a jurisdição daqueles com habilidades especiais, os Vingadores separam-se naturalmente. O filme situa os personagens no pós-Era de Ultron para que seja possível entender a escolha de cada um, não se detendo a uma questão de certo ou errado. Com Tony Stark (Robert Downey Jr.) tomado pela culpa de ações passadas e Steve Rogers (Chris Evans) preocupado em proteger os seus colegas de batalha, a velha rixa entre Homem de Ferro e Capitão América, estabelecida desde o seu primeiro encontro no cinema, ganha contornos épicos.

O segundo compromisso do filme é ser uma continuação de Capitão América: Soldado Invernal, o que transforma Bucky Barnes (Sebastian Stan) no evento catalisador definitivo de Guerra Civil e cria terreno para uma terceira missão: apresentar Pantera Negra. Assim, enquanto gradualmente aumenta a escala do conflito, com cenas de perseguição empolgantes, dirigidas com engenhosidade pelos irmãos Joe e Anthony Russo, o longa desenvolve a história do velho amigo de Steve Rogers e do herdeiro de Wakanda. A introdução de T'Challa se completa em poucas cenas, cuidadosamente construídas para estabelecer o seu universo, da pessoa pública ao guerreiro. Pela interpretação de Chadwick Boseman, a figura mascarada que adentra a trama tem personalidade e sua inclusão ao panteão do universo cinematográfico da Marvel é concluída com sucesso.

O mesmo vale para o quarto e mais aguardado encargo de Guerra Civil: a apresentação do novo Homem-Aranha. Fruto de um altamente divulgado acordo entre Sony e Marvel, o herói retorna "emprestado" para o estúdio da Casa das Ideias, ganhando no terceiro longa de Capitão América a introdução necessária para tirar do caminho do seu filme solo (previsto para 2017) a sua tão repetida história de origem. Markus e McFeely resolvem em algumas linhas de diálogo a personalidade, os poderes, as responsabilidades e o uniforme do amigão da vizinhança, dando espaço suficiente para Tom Holland justificar a sua escalação. Colocada em ação pelos Russo, essa versão "moleque" completa a demonstração do seu potencial. Entre uma piadinha e uma balançada de teia, Peter Parker está pronto para voltar aos cinemas.

Envolvendo todos esses objetivos está a incumbência de Capitão América: Guerra Civil iniciar a Fase 3 do universo cinematográfico da Marvel. A trama se desenrola como uma consequência de eventos da Fase 2, principalmente Soldado Invernal e Era de Ultron, tendo como principal amarra a misteriosa figura de Zemo. Desprovido do baronato, o vilão interpretado por Daniel Brühl aparece em uma versão bastante diferente dos quadrinhos, o que pode encontrar resistência entre alguns fãs. A justificativa está em uma proposta que desafia a lógica dos blockbusters no terceiro ato. Uma "ousadia", porém, que quebra o ritmo da narrativa e pode ficar no caminho da necessária imersão do espectador.

Tantas obrigações, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, fazem de Guerra Civil um filme grandioso, porém episódico. A sensação de que está se vendo apenas uma parte, não o todo, é constante. Sem um clássico início, meio e fim, trata-se de mais um capítulo do MCU, que os Russo amarram com habilidade, usando o debate sobre responsabilidade, as brigas e o humor para desenvolver emocionalmente todos os personagens. Do relacionamento entre Visão e Feiticeira Escarlate, conhecido nos quadrinhos e delicadamente construído na tela, ao amadurecimento de Tony Stark, em um retrato diferente de suas outras encarnações, mas não menos interessante, passando pelas muitas amizades do antes solitário Steve Rogers, ou mesmo pela lealdade de Homem-Formiga, Falcão, Máquina de Combate, Gavião Arqueiro e Viúva Negra. A história de todos segue em frente, mesmo que a conclusão ainda esteja distante.

Essa habilidade dos Russo para trabalhar diversos elementos simultaneamente aparece também nas cenas de ação. Como em Soldado Invernal, a dupla sabe coordenar os acontecimentos, evitando que o público se disperse com o movimento, seja no corpo a corpo ou em grande escala. A monumental cena do aeroporto, por exemplo, aproveita as habilidades de cada herói para desenvolver a ação de forma narrativa (e divertida). É possível saber onde cada personagem está e entender a sequência de eventos. Cheio de surpresas para os fãs, o trecho só perde o impacto pelo excesso de efeitos visuais, facilmente detectáveis em momentos que poderiam ter sido melhor finalizados. O alto nível da ação prática, incluindo a forma quase dolorosa com que os personagens despencam de prédios (adornada por uma ótima edição de som), aumenta ainda mais o contraste com esse visual artificial.

Capitão América: Guerra Civil é mais um filme do padrão Marvel Studios. Não foge das regras estabelecidas até aqui e leva um plano maior adiante, preparando um intrigante terreno para Vingadores: Guerra Infinita. É um evento cinematográfico, que ancorado pelo talento de seus roteiristas, diretores e do elenco, evita ser descartável. Existe uma ligação emocional com os heróis que continua a crescer, com antigos personagens evoluindo e novos membros do time trazendo renovação. Basta saber se essa história terá uma conclusão satisfatória, ou, como tantas grandes séries, terminará em uma sensação de vazio.

Nota do Crítico
Ótimo