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Carol | Crítica

A busca pelo belo como uma questão de identidade

15.01.2016, às 16H55.

"Não somos pessoas feias, Harge", implora Carol ao seu ex-marido quando o processo de divórcio se inflama e periga se transformar num escândalo. Nas obras de Todd Haynes ambientadas nos anos 1950, como este Carol (2014), a noção de evitar escândalos não tem a conotação sensacionalista de hoje em dia (em que tudo se torna público, independente ou não de envolver um interesse público legítimo). Nos anos 50, evitar escândalos significava preservar a intimidade - ou as aparências.

A diferença de Carol para Longe do Paraíso ou Mildred Pierce - em que Haynes já colocava suas heroínas para se martirizar contra aquilo que a sociedade americana da época julgava escandalizante - é, principalmente, a possibilidade da cumplicidade entre iguais: duas mulheres, Carol e Therese, que no seu amor clandestino têm uma à outra para se proteger dos "perigos" da vida pública. Que a certa altura elas sejam violentadas nessa intimidade e o ofensor diga que "não é nada pessoal" já deixa claro o tipo de ameaça a que estão sujeitas: a institucionalizada.

O fato de Carol ser uns 15 anos mais velha que Therese dá ao filme uma cara de Minha Querida Dama, uma aproximação que Haynes alimenta, para diferenciar a mulher divorciada, mãe de família, da garota que se deslumbra com as possibilidades de Nova York e não sabe dizer não a nada que a vida lhe ofereça. Enquanto Carol ganha a figura de uma Cate Blanchett no auge da sua altivez, Rooney Mara acerta em cheio naquele que é o único ponto da caracterização de Therese que ela não podia errar: o momento em que a garota se torna uma mulher.

Se Carol talvez seja o filme mais estetizante de Haynes - numa carreira que parece demonstrar predileção pelos anos 1950 justamente pelas oportunidades de se deslumbrar com cenários, figurinos e situações do esplendor de luz do american way - essa impressão se reforça na relação de mentora e aprendiz. Através de Carol, Therese descobre não apenas o amor, como desenvolve principalmente um olhar crítico. É como se juntas elas fossem capazes de enxergar as coisas que ninguém mais vê - o que fica mais do que latente na subtrama do desabrochar profissional de Therese.

Então se muita coisa em Carol precisa necessariamente ter um acabamento embelezante - do toque final do perfume à neve que começa a cair depois de um encontro perfeito - é possível enxergar isso como parte da construção do olhar de Therese. É esse olhar que lhe permite, por fim, encontrar os cabelos loiros de Carol no meio de uma multidão de ternos e gravatas pretos e cinzas.

Ao associar a construção do olhar de Therese com a criação de uma consciência da sua própria identidade sexual, o esteta Todd Haynes faz com Carol um filme que pode muito bem ser considerado belo e distante (de novo a busca da privacidade, do anti-escândalo, e de um olhar crítico exercitado na intimidade e no silêncio) mas sem dúvida é um dos seus relatos mais testamentais.

Nota do Crítico
Ótimo