É difícil entender porque filmes tão pessoais como Chef ainda carregam tanta identidade dos estúdios de Hollywood. Aqui, Jon Favreau retorna aos filmes intimistas e com menor orçamento, depois dos blockbusters Homem de Ferro 1 e 2. E mesmo que transpire a personalidade irreverente do ator/diretor, o longa se entrega aos clichês moralistas das comédias românticas recentes.
O ponto de partida é a gastronomia, primeira paixão de Carl Casper, chef que dá nome ao filme. Favreau fotografa no limite entre a elegância e o pornô gastronômico, algo inevitável com a presença de Scarlett Johansson cheia de caras e bocas ao comer um simples spaghetti ao alho e óleo. No segundo ato não há evidência desse glamour e Chef se torna um misto de filme de estrada e culinária, onde a trilha sonora é a única coisa executada com perfeição (a seleção é pautada pelas cidades nas quais os personagens se hospedam).
Ao viajar por algumas cidades dos EUA, Chef demonstra alguns pratos típicos e dá o contexto da criação de alguns deles. O filme ainda tenta incorporar as características dos tradicionais road movies, como a resolução de problemas na estrada e a aproximação dos personagens no decorrer da viagem, mas não encontra no elenco de apoio o sustento necessário. A atuação de John Leguizamo e Emjay Anthony não é o problema, pois o texto de ambos não é elaborado o suficiente para exigir desempenho acima da média.
O caso de Anthony é pior por se tratar de uma criança responsável por "modernizar" o pai por meio de redes sociais. Na verdade, todo o drama familiar não é bem explorado. A intenção de tornar o filho de Casper o condutor das mudanças e o olho do espectador dentro da cozinha não funciona - quando o próprio chef é o senhor das ações, tudo é mais fácil e divertido de acompanhar. O nível do relacionamento entre o protagonista e sua ex-mulher (Sofia Vergara) tem o mesmo resultado. Sem defeitos, apenas o personagem de Robert Downey Jr., que aparece como o sarcasmo típico de Tony Stark nos dois minutos em que fica em tela.