Como já dissemos aqui outras vezes, a alta expectativa pode acabar com um filme. Então, vou tentar desde já diminuir um pouco a sua ansiedade para ver Cloverfield - Monstro (Cloverfield - 2008) e assim salvar a sua sessão de cinema. Para começar, este não é o filme do ano. Apesar de toda a campanha viral, que envolveu blogs, vídeos em diversas línguas e muita falação, Cloverfield é apenas entretenimento. O monstro é gigante e destrói Nova York? Sim, mas isso você já sabia desde o começo, quando o pôster com a Estátua da Liberdade decapitada foi mostrada pela primeira vez.
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Cloverfield 1
Pronto. Funcionou? Então vamos ao que interessa. E isso não envolve o formato, tamanho ou voracidade do monstro. O filme, acredite, pouco tem a ver com este ser que aparece do nada e dá inicio a uma destruição incessante ao coração de Nova York, Manhattan. A grande sacada é usar este sentimento de impotência - algo intensificado depois do 11 de Setembro - para focar no drama dos personagens, homens e mulheres solitários no meio do caos sem sentido que toma de assalto uma das maiores metrópoles do mundo. E por isso é mais fácil compará-lo ao Tubarão de Steven Spielberg, do que aos Godzillas que já destruíram muitas cidades mundo afora.
Outro segredo compartilhado com o peixão spielberguiano está na tensão criada por aquilo que não se vê. É um rabo aqui, uma explosão ali, soldados lançando mísseis por todos os lados e muita correria. O ponto de vista do espectador grudado na cadeira é o mesmo dos personagens. A câmera em primeira pessoa está nas mãos de Hud (T.J. Miller), melhor amigo de Rob Hawkins (Michael Stahl-David). Ele estava registrando a festa de despedida de Rob - de partida para o Japão - quando as explosões começam. Filhote da geração YouTube, que não deixa escapar um tropeção na rua despercebido, ele corre, pula, cai, se machuca e fica cara a cara com o monstro sem deixar o botão do REC em paz. Apesar de aumentar o realismo do filme, tal recurso tem causado também incômodo em algumas pessoas, que saíram enjoadas dos cinemas. A dica é não se sentar muito perto da tela e, no meio da correria, tentar fixar o olhar em algum ponto na tela. Se não funcionar, pegue um saquinho extra de pipoca...
Ok, você pode não ter gostado da piada, mas é bom se acostumar. Além de toda a ação e o drama dos pergonsagens, Cloverfield também tem a sua dose de humor. Humor negro, vale dizer, mas bem-vindo para dar uma respirada entre uma correria e outra. E para quem gosta de romance, também tem! Rob está indo para o Japão de coração partido. Sua longa amizade com Beth (Odette Yustman), que por uma noite virou "algo-mais", também estava gravada na câmera e alicerça o filme todo em formatos de flash-back (herança de Lost?). Os nomes dos atores, caso você não esteja se questionando, são mesmo desconhecidos e este é mais um dos acertos do diretor Matt Reeves e o produtor J.J. Abrams. Rostos famosos não dariam o ar realista que um projeto como este necessita. E que isso não seja confundido com má qualidade. No que diz respeito a correr, gritar, parecer ofegante e ansioso, todos estão ótimos!
Alguns puristas podem dizerm que seria impossível a bateria da câmera durar tanto tempo. O que é bem verdade. Se os roteiristas se preocuparam com o celular que não funcionava, podiam ter procurado uma explicação para a tal bateria infinita. Mas estamos falando de um filme de monstros da altura dos maiores arranha-céus de Nova York e, acredito eu, procurar lógica apenas na câmera é como culpar a azeitona da empadinha pela quarta-feira de cinzas na maior ressaca do mundo.
Para terminar, é necessário desfazer a comparação entre A Bruxa de Blair e Cloverfield. Os dois usaram muito bem a internet, têm câmera na mão e personagens caminhando em terrenos rumo ao desconhecido. E pára por aí. É impossível colocar lado a lado o orçamento de 30 mil dólares do primeiro com os 30 milhões de dólares do outro. E se isso ainda não te convenceu, saiba que Cloverfield gera uma vontade de voltar ao cinema mais uma vez - seja para uma provável seqüência ou até mesmo para uma nova sessão de destruição por Nova York atrás de pistas do monstro, como os barulhos escondidos no fim dos créditos.