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Clube da Lua | Crítica

Clube da Lua

09.03.2006, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 10H04

Clube da Lua
Luna de Avellaneda

Argentina, 2004
Drama - 143 min

Direção: Juan José Campanella
Roteiro: Juan José Campanella, Fernando Castets e Juan Pablo Domenech

Elenco: Ricardo Darín, Eduardo Blanco, Mercedes Morán, Valeria Bertuccelli, Silvia Kutika, José Luis López Vázquez, Daniel Fanego, Atilio Pozzobon, Horacio Peña, Maria Victoria Biscay, Francisco Fernández de Rosa, Micaela Moreno, Alan Sabbag

O filho da noiva (2001), de Juan José Campanella, é um drama emotivo com pano de fundo político. Clube da lua (Luna de avellaneda, 2004), o trabalho mais recente do diretor, é um filme político com cara de drama emotivo.

Isso já começa a ficar claro quando os atores Ricardo Darín (Kamchatka) e Eduardo Blanco (Conversando com mamãe) surgem em cena. NO filho da noiva ambos atravessavam crises pessoais, amores inconstantes, agravados pelo baque econômico da Argentina, que vitimou o restaurante de Rafael, o personagem de Darín. No novo filme a ordem das preocupações se inverte. A falência iminente do clube Luna de Avellaneda, antigo símbolo de alegria e fartura da cidade de Avellaneda, ao Sul de Buenos Aires, é a grande dor-de-cabeça de Román (Darín) e Amadeo (Blanco) - mas não bastassem os problemas eles ainda precisam lidar com casamentos falidos, desemprego, crises de meia idade.

O clube, como o país, já viveu dias melhores: o filme abre com uma enorme quermesse nos idos de 1950, pau-de-sebo, jogos, barracas, baile com banda. Corta para os dias atuais: Román, sócio desde o nascimento, tenta enxugar as poças de água na quadra de basquete que antes servia de pista aos casais dançantes. Falta dinheiro para concertar o teto e para todo o resto. É a crise. O que um dia teve 8 mil sócios hoje não chega a mil. Só uns duzentos pagam a mensalidade. Dentro de casa a ruína se espalha. A esposa se diz negligenciada, o filho desempregado quer se mudar para a Espanha, não sobra a Román nem dinheiro para comprar um perfume decente.

Como em todo filme político, o conflito principal da trama é um dilema coletivo. Manter o clube, fechá-lo ou vendê-lo? Alejandro (Daniel Fanego), amigo de adolescência e antigo rival de Román e Amadeo, trabalha na prefeitura, tem uns contatos. Ele chega com a proposta de um cassino que quer ocupar o terreno: se os sócios abrirem mão do Luna de Avellaneda, terão duzentos empregos garantidos na casa de jogatina.

Pronto, arma-se a clássica dicotomia marxista: de um lado, os donos do dinheiro, do outro, a massa. Campanella não se acanha em tomar o partido - a começar pela caracterização nada lisonjeira de Alejandro, que para completar ainda derrota Román na esfera íntima. O clímax do filme, como não deixaria de ser, rola na assembléia de associados que decidirá o futuro do clube.

Não que Clube da lua seja meramente um panfleto. A posição política de Román é também uma posição filosófica: um indivíduo só se completa quando a sociedade autentica suas realizações. A felicidade de um está no julgamento que os outros fazem dele - e não há felicidade maior para Román, ainda que isso signifique abandonar a família, do que prestar serviços aos associados do clube, às meninas pobres que fazem balé, aos velhos que têm um lugar para tomar uma cerveja.

O caso é que o diretor soube equilibrar melhor a fórmula engajamento/emoção no filme anterior. É na porção emotiva que ele se sai melhor, dosando romantismo à moda antiga com as peculiaridades da modernidade (em O filho da noiva Rafael se declara à namorada pelo interfone do prédio; aqui a esposa de Román tenta alcançar um carro em disparada, clichezaço meloso, e pára no meio da corrida para ligar ao celular do motorista, sacada que derruba o clichê). Campanella tem talento, isso fica claro em uma ou outra imagem inspirada, como a alegoria do pau-de-sebo como o obstáculo quase intransponível a ser superado, em diálogos que não temem chegar às verdades mais profundas e doídas.

Mas Clube da lua de certo modo sofre da pressão pós-sucesso de O filho da noiva, regra segundo a qual a continuação deve ser maior e mais intensa que a obra anterior. Acumula dramas paralelos demais (e por isso mal resolvidos, como o alcoolismo de Amadeo), discursos engajados demais, maniqueísmos demais. Campanella é um cineasta das pequenas coisas. Os grandes temas se revelam nos detalhes - no tiramisu que Rafael não consegue mais dividir com o pai, por exemplo. Aí está o problema: Clube da lua coloca os grandes temas acima dos detalhes

Nota do Crítico
Regular