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Códigos de Guerra | Crítica

O diretor consegui impor sua marca nos EUA, mas ela só está presente em uma sequência do longa

25.10.2002, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H13

Imagine um roteiro assim: na Segunda Guerra Mundial, um sargento norte-americano, por teimosia e rigor, recusa o bom senso da retirada e acaba assistindo ao extermínio de todo seu pelotão. Sai do combate gravemente ferido. No hospital, vive atormentado pelas vozes dos companheiros mortos - e decide, como única saída para a dor, voltar ao campo de batalha. Enquanto isso, um nativo dos Estados Unidos, da tribo dos Navajos, cheio de bravura, esperança e espírito cívico, resolve ajudar seu país na guerra, mesmo que os outros soldados o reneguem e o ridicularizem. Cabe então ao sargento veterano a incumbência de proteger o indígena novato.

Daria uma promissora história sobre lições de vida, baseada em fatos reais do conflito, com pitadas de reflexão antibelicista e de histórico ajuste de contas.

Pois essa é a trama de Códigos de Guerra (Windtalkers, 2002). No papel do sargento Joe Enders, Nicolas Cage oferece talento (sorriso cínico, olhar psicótico, caretas mil) suficiente para rivalizar com o Martin Sheen de Apocalypse Now (idem, de Francis Ford Coppola - 1979) e exprimir toda a angústia do personagem. Quando o exército norte-americano tentou tirar Saipan das mãos dos japoneses sofreu com a perícia oriental em decifrar os códigos dos Aliados. E aí entram os Navajos. O atrapalhado Ben Yahzee (Adam Beach) representa a tribo quase extinta na época da Conquista do Oeste, mas cujo complexo idioma pode servir como uma comunicação indecifrável naquela ilha do Pacífico Sul.

Tudo conspira a favor, mas acontece que na direção paira a figura do chinês John Woo, consagrado pela condução estilosa de tiroteios e explosões. Depois de uma celebrada carreira em sua pátria, Woo estreou em Hollywood em 1993, comandando o bom O Alvo (Hard Target), estrelado por Jean-Claude Van Damme. Em seguida, emendou três películas eficientes: A Última Ameaça (Broken Arrow, 1996), A Outra Face (Face-Off, 1997) e Missão: Impossível 2 (M:I-2, 2000).

Sem dúvida, Woo impôs sua marca nos EUA. Mas uma história humana e abrangente, como a de Códigos de Guerra, pede mais do que câmera lenta e malabarismos. O diretor enfoca as batalhas e trata o tema principal com superficialidade. E pior, para os seus fãs mais devotos, também está econômico no virtuosismo. Vale ressaltar apenas a seqüência inicial, quando uma borboleta plana sobre um rio manchado de sangue. Tirando esta seqüência, digna dos melhores filme de Woo, fica tudo repetitivo, mal aproveitado e altamente descartável. Uma pena, pois a premissa prometia.

Nota do Crítico
Regular