Embora não sigam uma única receita, não é difícil identificar filmes estrelados por jovens que foram feitos por adultos que não fazem a menor ideia de como se comportam adolescentes hoje. Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (Scouts Guide to the Zombie Apocalypse, 2015) é um deles.
Na trama, três adolescentes, escoteiros há anos, enfrentam a crise do amadurecimento. Dois deles já estão cansados da brincadeira e só pensam em mulheres, e uma festa secreta de veteranos do colegial parece a oportunidade ideal. Enquanto isso o terceiro, o nerd órfão gordinho, que ainda acredita na bandeira do escotismo, sente-se traído. Eles precisam colocar as diferenças de lado quando irrompe uma epidemia zumbi.
Do título que lembra os guias anti-apocalipse que eram moda nos anos 2000 (como os livros de Max Brooks), passando pelo pôster que emula as aventuras oitentistas da produtora Amblin, pelo tratamento sexualizado da mulher que também remete a comédias dos anos 1980, até a premissa que mistura Zumbilândia com Superbad (nunca a década passada pareceu tão distante), tudo no filme de Christopher Landon deriva de tempos que já se foram.
Na verdade, talvez os envolvidos na produção até saibam uma coisa ou outra sobre o público jovem para quem estão fazendo Como Sobreviver a um Ataque Zumbi, mas é com considerável desdém pela capacidade que esse público tem de inventar e aderir a novidades (e pela esperteza com que jovens farejam quando velhices tentam se passar por tendência) que Landon recicla outros filmes em um só.
E então falta a Como Sobreviver a um Ataque Zumbi a única coisa de que realmente precisava: pesquisa. Não há autenticidade possível num filme que faz um retrato de escoteiros (e mesmo de zumbis) a partir de lugares-comuns juntados em meia hora de brainstorming; as primeiras coisas que vêm à mente quando se pensa em escoteiros, por exemplo, como as calças curtas, os distintivos ou o talento para dar nós, são basicamente as únicas que Landon aproveita para dar vida a seus personagens. E se seus protagonistas soam falsos nesses papéis, tudo ao redor por extensão se desmancha.
O fato de faltar o mínimo de carisma ao elenco principal (o protagonista Tye Sheridan se dava muito melhor quando fazia dramas indies secos que exigiam mais naturalidade do que brilho) contribui para tornar Como Sobreviver a um Ataque Zumbi um filme sem personalidade. Nesse ponto, é provável que o radar teen contra trucagem já tenha funcionado no set; é duro quando nem o trio principal parece estar se divertindo com o que faz.