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Crítica

Crítica: Planeta dos Macacos

Completamente diferente. Igualmente bom

02.08.2001, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 03H19

Muitos consideram Sgt Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, o melhor álbum da história da música. Estão ali Lucy In The Sky With Diamonds, With a Little Help From My Friends e várias outras canções inesquecíveis. Joe Cocker lançou dois anos depois, em 1969, o disco With a Little Help From My Friends. A canção que batizava o álbum era a mesma criada pelo quarteto de Liverpool, porém numa interpretação completamente diferente e igualmente genial.

Planeta dos Macacos

Tim Burton fez um trabalho parecido ao de Cocker em Planeta dos Macacos. O estranho diretor de Batman, Ed Wood e A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, conseguiu o que parecia improvável: deixou de lado o clássico de 1968 e fez um filme tão bom quanto o original.

Homem vê, homem copia?

Também baseado no livro de Pierre Boulle, Planet of the Apes manteve a premissa de que um piloto da Terra pousa num planeta dominado por macacos. Os símios são muito mais inteligentes que os que conhecemos, podem falar, pensar e andar a cavalo como um ser humano. E param por aí as semelhanças, mas não as referências. Quem assistiu ao filme dirigido por Franklin J. Schaffner verá algumas cenas que são pura homenagem, como o famoso beijo interracial, os espantalhos e A GRANDE SURPRESA.

Há, por outro lado, várias diferenças entre as duas obras. Se na primeira os humanos são temidos, desta vez eles são odiados pelos macacos. Esta mudança de comportamento se deve principalmente às diferentes explicações de por que os macacos se tornaram tão inteligentes. Mutação genética em um e evolução no outro.

Desta vez, os macacos são muito mais bestiais. Em vez dos rifles usados em 1968, agora eles fazem justiça usando as próprias mãos (e que mãos pesadas!). O mais violento entre todos é Thade, interpretado por um Tim Roth que consegue evocar a raiva que o personagem necessita. Para ele, os humanos são nojentos e devem ser eliminados.

Mas quem evoluiu muito para a versão do novo milênio foram os homo sapiens. Os humanos agora falam! Este avanço tem também o seu lado negativo. Na versão original, Nova (Linda Harrison), a mulher-objeto do Coronel George Taylor (Charlton Heston), era literalmente um objeto... ornamental! Ela entra em cena quieta e sai calada. Estella Warren, uma jovem de 22 anos, ex-atleta de nado sincronizado, mostra que tem os atributos físicos para o papel, mas nas poucas cenas em que se exige dela um pouco de interpretação, não convence.

Se Darwin visse isso...

O maior salto evolutivo fica por conta da maquiagem. O efeito que se conseguiu em 1968 era excelente para a época. Mas Rick Backer (MIB, Professor Aloprado, O Grinch) dá mais uma aula e corre sérios riscos de ganhar seu sétimo Oscar na categoria. Alguns atores sofriam de duas a três horas em média para virarem macacos. Mas o resultado são chimpanzés, orangotangos e gorilas com fisionomias humanas. A mais bela espécime é Helena Bonham Carter, que demorava até cinco horas para se tornar Ari, a principal defensora dos humanos.

É Ari quem vai tentar ajudar o Capitão Leo Davidson (Mark Wahlberg - ex-Mark Marky, na época do New Kids on the Block) a fugir da sombria aldeia criada para os macacos. O ator de Mar em Fúria e Três Reis substitui Charlton Heston com uma canastrice que não perde em nada ao original, mas também nada acrescenta. Heston é usado em outra homenagem de Tim Burton. Atuando como pai de Thade, ele volta a pronunciar a frase que imortalizou a sequência final da fita em que era protagonista: Malditos!!!

Pagando um mico

Depois de tanto falar no primeiro Planeta dos Macacos surgem as perguntas: esta nova versão não é mais uma cópia mal feita de um clássico? Se eu não vi a original, vou perder muita coisa? A resposta é simples, uníssona e vale para as duas: NÃO!!! Nem mesmo o uso desnecessário de alguns clichês e um ou outro furo na trama tiram o brilho de um dos melhores lançamentos do ano. Tim Burton usou toda a sombriedade criada pelos cenários (na sua maioria complexos e escuros) e a trilha sonora de Danny Elfman para transformar um dos ícones do cinema cult em estrela pop.

Nota do Crítico
Ótimo