Conan - O Bárbaro (Conan - The Barbarian, 2011), apesar do título idêntico ao do filme de 1982 estrelado por Arnold Schwarzenegger, não é um remake, mas uma abordagem distinta ao clássico da literatura pulp criado por Robert E. Howard em 1932.
Conan
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A trama de ambas as produções cinematográficas começa parecida. O jovem Conan sobrevive ao massacre de seu povo por um conquistador e cresce em busca de vingança. Aqui o alvo dessa jornada é Khalar Zim (Stephen Lang), vilão que busca reunir todas as partes de uma máscara ancestral para reviver sua esposa, uma feiticeira poderosa, e juntos dominarem o mundo.
O longa de Marcus Nispel, roteirizado por Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer (Dylan Dog), de certa maneira, é até mais fiel ao material original que o longa-metragem dirigido por John Milius. O personagem no novo filme não é o bárbaro monossilábico que o cinema nos apresentou na pele de Schwarzenegger, mas um guerreiro astuto e cheio de recursos, muito mais próximo do ladrão hábil que E. Howard imaginou.
Jason Momoa (Game of Thrones), o novo cimério, por esse ângulo, faz um trabalho razoável. Luta bem e tem a mistura certa de carisma e brutalidade. Definitivamente, o problema do filme não é seu protagonista - ainda que o elenco de apoio deixa a desejar, especialmente Lang, repetindo a pose de vilão de Avatar; Rose McGowan (exagerada como a filha feiticeira de Zim, Marique) e a fraquíssima Rachel Nichols (a sacerdotisa Tamara), que mais uma vez prova sua inépcia.
Porém, enquanto o filme original tinha o talento de Milius, que efetivamente entende o cinema e seus recursos, entregando sequências memoráveis - como a do bela elipse do crescimento do menino-escravo Conan na roda da moenda ou o ataque misterioso do início do filme -, o novo longa busca desesperadamente adequar-se à ideia do cinema de "espada e feitiçaria" que corre hoje em Hollywood.
As soluções do roteiro (do pior tipo "basta adicionar água") são tão óbvias que dá para compará-lo mais à paródia Your Highness. Os dois filmes dividem o mesmo vilão caricatural cheio de asseclas descartáveis e estilosos, a busca como fases de um videogame (a trama não avança pelos personagens, mas por desafios liderados por "chefes") e até a ação (compare a cena da perseguição da carroça).
Não é possível ignorar também a ideia recorrente nos filmes escritos por Donnelly e Oppenheimer de que em todas as sequências de luta o herói precisa proteger alguém enquanto enfrenta simultaneamente seu oponente. Há sempre essa divisão de foco, como que para ilustrar as qualidades do personagem, fiel aos amigos e feroz contra os antagonistas. Junte a isso os combates a la Piratas do Caribe, em que além de tudo o equilíbrio em algum elemento do cenário é necessário, e você começa a perceber como o gênero tornou-se algo que pode ser rapidamente adequado a todos os públicos, variando apenas a quantidade de sangue e os palavrões em cena.
Sangue, pelo menos, não falta no novo Conan. Ele jorra de ferimentos e a cada golpe aos baldes. Mas não adianta pintar a tela de vermelho se o impacto de cada golpe - físico e emocional - não é sentido. Reveja o primeiro Conan e perceba quão exíguo é o sangue naquele filme. É no corpo-a-corpo do protagonista contra seu primeiro oponente, que é quebrado aos poucos, que se sente a luta do personagem pela vida, sua transformação de menino a gladiador implacável. Enquanto isso, no Conan de 2011 o jovem aparece como um pequeno selvagem, enfrentando sozinho quatro guerreiros e matando-os em segundos cheio de malabarismos bonitos que, na prática, não passariam de um desperdício de energia. Fica claro que a brutalidade não está nos gráficos, mas nos detalhes narrativos.
Mas se o filme fracassa no campo das "espadas", a situação só piora no quesito "feitiçaria". A existência da magia no universo de Conan e os poderes de Marique são jogados na cara do público sem aviso. É claro que qualquer fã sabe que a era hiboriana é permeada por feiticeiros e criaturas, mas dentro do universo do filme não há qualquer preparação desse aspecto, algo que a cena na cabana da bruxa demoníaca introduziu tão bem no longa de 1982. O novo Conan vai de 0 a 100 nesse sentido, com Marique lançando seus demônios da areia subitamente... apenas em prol de uma cena de luta diferente (e terrívelmente mal executada).
Nispel, que no passado demonstrou estilo e conhecimento do cinema de gênero, realiza aqui seu pior filme. Reduz Conan a um Piratas do Caribe sisudo e sangrento, sem qualidade narrativa ou estética. Não passa de golpe de marketing trazer à mente Frank Frazetta nos belos cartazes e divulgar fotos tratadas com instigantes filtros hiper-realistas se isso não reflete o conteúdo da produção. E se o original tinha a brilhante trilha sonora de Basil Poledouris, cheia de fúria retumbante, a composição de Tyler Bates parece mais interessada em emular games como God of War e não soa nada original.
Não há desculpa para ressuscitar Conan no cinema para fazê-lo como qualquer outro produto de verão. Se o bárbaro cimério sobreviveu 80 anos não foi por adequar-se aos tempos e ao Excell dos produtores, mas por manter sua inabalável fé na satisfação em "esmagar seus inimigos, vê-los caídos diante de seus olhos e ouvir os lamentos de suas mulheres". Que essa motivação honesta ao menos sirva de lição para o que Hollywood precisa reencontrar em suas produções de gênero.
Conan - O Bárbaro estreia no Brasil em 16 de setembro. Esta crítica foi escrita com base no filme em 2-D. Não vimos o resultado da conversão para o 3-D estereoscópico.