George Clooney tem uma das carreiras mais sérias de Hollywood. O ator fez a difícil passagem da televisão para as telonas primeiro com papéis em filmes de ação - mas aparentemente isso foi apenas para que ganhasse um fôlego financeiro, empregado mais tarde no trabalho em filmes inteligentes e conscientes, seja como ator, produtor ou diretor. Se ele esteve no pior Batman de todos ou no esquecível O Pacificador, fez pelo menos três vezes mais bons filmes. Todas escolhas acertadíssimas, como Syriana, Boa Noite Boa Sorte, O Segredo de Berlim, Confissões de Uma Mente Perigosa... e agora volta a acertar em Conduta de Risco (Michael Clayton), outra dessas excelentes produções que ele seleciona tão bem.
Conduta de Risco
Conduta de Risco
Conduta de Risco
Mas se inicialmente é difícil separar a imagem glamurosa e vencedora dele na série iniciada por Onze Homens e Um Segredo, não tarda para que percebamos que aquele ali é outro cara, completamente diferente. Não que Michael Clayton (Clooney) tenha menos recursos ou charme que Danny Ocean, mas certamente tem muito menos sorte e ambição.
O personagem-título vive na trama o pior dia de sua vida. Seu bar fechou, ele deve dinheiro a agiotas e seu amigo Arthur (Tom Wilkinson, perfeito, alucinado e indicação certa ao Oscar de coadjuvante em 2008) surtou enquanto cuidava do maior caso da gigante empresa de advocacia na qual ambos trabalham. Cabe a Michael encontrá-lo e devolvê-lo à razão. Mas em seu caminho estão os mesmos motivos pelos quais Arthur teve seu colapso.
Trata-se de uma história sobre ética profissional e social - e a linha que não deveria separar as duas -, cuidadosamente elaborada pelo talentoso roteirista Tony Gilroy, em seu primeiro trabalho também como diretor. Ele já havia provado ser ótimo escritor de diálogos (O Advogado do Diabo) e de personagens e suspense (franquia Bourne), mas aqui simplesmente atinge um equilíbrio digno dos grandes thrillers políticos setentistas. A tagarelice (é um filme de advogados, afinal) é constante e variada. Ele escreve com a mesma competência os ácidos comentários de uma mesa de pôquer, conselhos paternos e verborragias jurídicas. Do outro lado, a tensão não dá trégua e o único grande respiro do filme, o metafórico momento em que Michael sai do carro no campo, dura apenas o suficiente...
Gilroy acerta também na seleção fortíssima de elenco (não dá pra errar com Clooney, Wilkinson, Tilda Swinton e Sydney Pollack); na confiança na direção de fotografia inspirada e atmosférica, mas sem excessos, de Robert Elswit (também de Syriana e Boa Noite Boa Sorte); e ao optar pela montagem de seu próprio filme, algo que faz de maneira não-linear, com grandes blocos de flashbacks e apresentações desencontradas de personagens. Leva um tempo para que entendamos todos os jogadores em campo, mas quando eles, bem como suas posições, são revelados, a partida vira clássico.
E se o final pode soar um tanto equivocado para alguns (eu mesmo tive uma certa dificuldade em aceitá-lo), imediatamente após creditei a ele tudo o que o filme não mostra, mas insinua. Essa, aliás, é outra das qualidades do roteiro. Nunca vemos o personagem de Clooney efetivamente tendo sucesso no que todo mundo diz que ele faz tão bem (ele diz que é um "faxineiro", alguém que corrige os erros dos outros na empresa), mas acreditamos que ele é capaz. Os personagens e ambientações são tão bem desenvolvidos que não precisamos ver determinadas situações para entendê-las. E não há maior elogio para um roteirista.