Um duelo ferrenho de espadas, em plena Idade Média, ao som de Queen. Uma disputa entre cavaleiros montados embalada a uma trilha sonora de David Bowie. Um baile palaciano do século XV turbinado por temas da Disco Music. Assim como "Moulin Rouge" (2001), de Baz Luhrmann, "Coração de Cavaleiro" ("A Knights Tale", 2001), de Brian Helgeland, também abusa dos números musicais atemporais. Mas, ao contrário do controverso filme de Lurmann, "Coração" oferece uma fábula deliciosa, leve, digna da melhor Sessão da Tarde. Baseada no texto medieval "Canterbury Tales", de Geoffrey Chaucer (1342-1400), conta a história de um pebleu que se finge de nobre para realizar o seu sonho: lutar como um legítimo cavaleiro.
Assim que Sir Ector (Nick Brimble) morre, durante uma disputa entre cavaleiros, William Thatcher (Heath Ledger, aspirante a ídolo juvenil), o seu escudeiro, assume secretamente o seu lugar na montaria, mascarado por uma armadura pesada. Para surpresa dos amigos Roland (Mark Addy) e Wat (Alan Tudyk), William vence o torneio de "Jousting". Nesse esporte, dois cavaleiros se digladiam com longas lanças sobre os seus cavalos. Vence aquele que acertar e derrubar o oponente com o instrumento. Depois da vitória, o neocavaleiro escala os amigos para servirem de escudeiros. Começa a sua saga por torneios de diferentes nações, mas William ainda precisa de um título de nobreza, ou a sua participação será negada.
Entra aí a figura do escritor Geoffrey Chaucer, interpretado por Paul Bettany. Em troca de comida e moradia, Chaucer pode usar a imaginação e criar um autêntico certificado de nobreza. William Thatcher se torna Sir Ulrich von Lichtenstein, de Gelderland. Famoso por roteirizar filmes como "Los Angeles - Cidade Proibida" ("L.A. Confidential", de Curtis Hanson, 1997) e "Teoria da Conspiração" ("Conspiracy Theory", de Richard Donner, 1997), Helgeland cria a sua fábula. Aventura, emoção, casos amorosos, duelos e inimigos mortais constituem um filme agradabilíssimo. E os tais números musicais, como o coro popular de "We Will Rock You" (imitação bem-humorada das torcidas norte-americanas), causa algum estranhamento, mas nada que atrapalhe. Com o intuito exclusivo de divertir, "Coração de Cavaleiro" cumpre com primor a sua missão.