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Depois das enormes bilheterias no Canadá, C.R.A.Z.Y. - Loucos de amor (C.R.A.Z.Y., 2005) continuou seu sucesso no mercado independente mundial. O filme ganhou vários prêmios em festivais e deu prestígio ao diretor Jean-Marc Vallée. Ele já está sendo visto como um possível candidato a fazer parte do seleto hall dos atuais cineastas canadenses mais relevantes, como David Cronenberg, Denys Arcand e Guy Maddin.
O filme se inicia em 25 de dezembro de 1960, quando Zachary Beaulieu (atores Emile Vallée como criança e Marc-André Grondin como o adolescente) vem ao mundo. É o quarto entre cinco irmãos, todos meninos, cujas iniciais formam a palavra crazy (louco). O filme acompanha os 20 primeiros anos da vida de Zachary. A infância é marcada pelos aniversários natalinos em que seu pai (Michel Côté), invariavelmente, encerra a festa imitando Charles Aznavour. Sua a adolescência traz descoberta de uma sexualidade diferente e sua negação profunda para não decepcionar a família. E a maturidade, enfim, chega com uma libertadora viagem mística por Jerusalém, a cidade que sua mãe (Danielle Proulx) sempre sonhou conhecer.
O projeto levou dez anos para ficar pronto. O roteiro foi escrito por Vallée e François Boulay, baseado nos diários de Boulay. O argumento também conta com passagens da vida pessoal do diretor. Especialmente as cenas da mãe devota e do pai apaixonado por música. Mesmo tendo sido escrito das experiências da dupla, o contexto será reconhecido por qualquer pessoa pertencente a uma família numerosa. E mesmo com essa premissa o filme não cai no melodrama. A história mistura de forma inteligente o sagrado e o profano, o pessoal e o universal. Interessante que o tema não se concentra na descoberta sexual, mas sim sobre o amor.
Os pais não são retratados como vilões, mas como duas almas compassivas e honestas que realmente querem o melhor para seus filhos. São bons pais, em outras palavras, personagens críveis. Mas o tratamento para com os personagens não foi igual para todos. Vallée negligencia dois dos irmãos, que nem parecem estar no filme, já que surgem e somem na mesma rapidez.
Mas isso não impediu de Vallée destilar toda a sua habilidade técnica para contar mais de 20 anos de história. Truques cinematográficos aumentam a carga dramática das cenas. Ele utiliza close-ups, ângulos diferenciados, slow-motion e charme nas imagens de pessoas fumando. A cenografia de Patrice Bricault-Vermette se encaixa perfeitamente à proposta visual. Tudo isso embalado por uma trilha sonora apaixonante com as músicas de Patsy Cline, David Bowie, Pink Floyd, Rolling Stones, Charles Aznavour e The Cure, entre outras feras.
O resultado retrata com dignidade as habituais dúvidas que surgem na adolescência.