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Crianças Invisíveis | Crítica

Crianças invisíveis

30.03.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H19

Crianças Invisíveis
All the invisible children
Itália, 2005
Drama - 116 min

Direção: Kátia Lund, Emir Kusturica, Spike Lee, John Woo, Jordan Scott, Ridley Scott, Mehdi Charef e Stefano Veneruso

Elenco: Francisco Anawake, Maria Grazia Cucinotta, Damaris Edwards, Vera Fernandez, Hazelle Goodman, Hannah Hodson, Wenli Jiang, Wu Jiang, Peppe Lanzetta.

É desnecessário pontuar as razões de obras criadas em conjunto não conseguirem coesão total ao seu final, principalmente pelas obviedades das diferenças de estilos, recursos utilizados, etc, etc.

Todas as Crianças Invisíveis (2005) junta nessa jornada humanitária oito cineastas - sete filmes - de diferentes estilos e países, mas que demonstram ser o cinema, junto com a música, a fonte de apelo popular mais imediato, quando o assunto é arrecadação de bens em benefício do ser humano.

O episódio africano, de Meldy Charef, mostra situação em que crianças viram guerreiros armados, abandonando - por essa eterna guerra tribal que assola quase todo o Continente Negro - a escola e principalmente a infância. Qual futuro possível? Muito pueril, no mau sentido, ainda por cima é falado em inglês, o que só contribui para piorá-lo.

Emir Kusturica surge novamente - e acho isso positivo - com seu cinema aceleradíssimo, adrenalizado, cigano e extremamente musicado. Mostra a situação de crianças encarceradas por crimes cometidos. Destaque para a dança malandra e safadinha de um molequinho cigano.

Em São Paulo, na São Paulo dos pobres e favelados, onde crianças trabalham como burros de carga e, mesmo assim, não deixam de exercer sua infanttilidade nos momentos de folga, Kátia Lund mostra o quão boa diretora de atores é. Foca o trabalho em duas crianças, um menino e sua irmãzinha, que fazem de tudo para sobreviver honestamente, cruzando uma cidade cruel - de um país cruel - e trabalhando duro para levar no fim do dia o dinheiro do sustento de sua casa.

Já o Sr. Faça a Coisa Certa, Spike Lee, para variar manda muito bem; faz o melhor episódio do trabalho e conta sobre a situção de crianças portadoras do vírus HIV - portadoras, mas sem a manifestação da doença. Fala de Blanca - numa baita interpretação - filha de pais viciados, e que enfrenta problemas na escola - ah, esse maldoso mundo adolescente. Tem a pele muito clara, para o gosto de suas inimigas - afinal, são crianças/adolescentes que emanam opiniões de pais sem bom senso. Termina como vídeo institucional e isso funciona muito bem, emocionando.

Jordan Scott e Ridley Scott. O que esperar do bom cineasta, Ridley, que ficou famoso pelo jeito meio publicitário de encarar o cinema? Justamente isso. Faz um filme plasticamente belo, em que um bosque é entrecortado por fachos de luz difusa - característica familiar - e que cria uma bonita elipse ao levar seu ator principal da vida de adulto à infância. Trata das crianças nas guerras européias, e lembra que a felicidade multiplica o bem e divide o mal.

Nápoles está sendo recuperada, mas a violência continua, é a reclamação de alguns após um assalto cometido por moleques, no trânsito; poderia ser São Paulo ou Rio. O problema é que Stefano Venerano nos entrega um filme muito esquemático, que toma mais um rumo de passeio pela cidade com suas manifestações culturais em detrimento do verdadeiro objetivo, que seria o de enfatizar as desigualdades responsáveis pelas atitudes de violência infantil.

A China do regime de escravidão infantil é o tema utilizado por John Woo em sua participação no projeto. Seu filme, como sempre, beira o drama rasgado - raspa por ele - mas Woo é habilidoso e sabe o que faz. Mostra os dois mundos, o da riqueza e o da miséria, pelos olhos de duas meninas - maravilhosas. Suas necessidades e desejos são esplendorosamente engendrados e filmados, e o recado competentemente passado.

Cid Nader é editor do cinequanon.art.br

Nota do Crítico
Regular