Filmes

Crítica

Crítica: A Batalha dos 3 Reinos

John Woo e a sua arte da guerra

23.10.2009, às 15H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 00H09
Saiu de uma passagem de Romance dos Três Reinos

a batalha dos 3 reinos

a batalha dos 3 reinos

a batalha dos 3 reinos

a batalha dos 3 reinos

, livro escrito por volta do ano 1350 por
Luo Guanzhong , a história para o novo filme de John Woo , A Batalha dos 3 Reinos (
Red Cliff ). Mas é outro livro que influencia de forma mais ostensiva o filme: A Arte da Guerra , de
Sun Tzu .

Na verdade, as lições de estratégia militar escritas por Sun Tzu seis séculos antes de Cristo já inspiravam os líderes dos três feudos que, dos anos 220 a 280 d.C., durante a dinastia Han, guerrearam entre si para defender sua parcela no território chinês. O clímax dessa luta, a batalha dos penhascos vermelhos, são o foco da história contada por John Woo.

No filme, somos logo apresentados a Cao Cao (Zhang Fengyi), primeiro-ministro do imperador que, vindo de uma vitória militar, consegue convencer o fraco regente a bancar outra guerra - desta vez, contra os supostos rebeldes do sul, os reinos dos senhores Sun Quan e Liu Bei. O exército de Cao Cao é radicalmente mais numeroso, mas a aliança formada pelos estrategistas de Sun Quan e Liu Bei - respectivamente, Zhou Yu (Tony Leung Chiu-wai) e Zhuge Liang (Takeshi Kaneshiro) - tenta tirar a vantagem de Cao Cao na base da inteligência.

Woo faz um trabalho formidável no início para não deixar que a salada de nomes, reinos e hierarquias confunda o espectador. Formidável porque somos apresentados de forma didática a cada um dos senhores feudais, generais e conselheiros (inclusive com legendas, como num tokusatsu), com cada personagem sendo tipificado de um jeito (há o general brutamontes, um outro bom de montaria, há o estrategista que ama a mulher, outro que sabe apreciar música), e esse resumão, ao invés de reduzir o potencial desses personagens, consegue nos dar um painel amplo do que esperar, quando a batalha começar.

É como se nos fossem apresentados os "jogadores" de um imenso game de estratégia. Não por acaso, os personagens vividos pelos astros Kaneshiro e Tony Leung são os verdadeiros protagonistas. É na boca dos dois que John Woo coloca as frases mais sintéticas do pensamento de Sun Tzu - guerrear é proteger civis, respeitar as leis da natureza etc. E enquanto os "rebeldes" do sul são mostrados como benfeitores (ensinando soldados a ler e escrever), Cao Cao é pintado como o militar extremado, que usa até futebol no treinamento de seus homens. Ironicamente, Cao Cao é tido, historicamente, como um dos principais responsáveis por preservar os escritos de Sun Tzu para a posteridade.

Uma vez que a arte da guerra de Sun Tzu se baseia numa ética própria - repare como o pior xingamento que alguém pode receber no filme é "traidor" - John Woo consegue licença para exercitar todos os seus dons sem a preocupação de estar glamourizando a violência. Planos de gruas, travelings circulares, zooms velozes... Todo tipo de ferramenta de cinema de ação, mesmo os mais cafonas, como as fusões de imagens, caem bem na mão do cineasta. A Batalha dos 3 Reinos é um épico digno do nome, e o senso de ritmo do diretor, que faz 150 minutos de sessão parecer menos, é invulgar.

Vale comparar o longa - o primeiro do cineasta em sua pátria materna desde Fervura Máxima (1992) - com outros similares, como os épicos de Zhang Yimou, de Herói e O Clã das Adagas Voadoras. As diferenças ficam evidentes nos momentos mais movimentados da ação. Enquanto Yimou privilegia a coreografia da luta, o bailado dos corpos que não necessariamente implica um bailado também da câmera, John Woo pensa com cabeça de montador. Há algum balé e pouco wire-fu em A Batalha dos 3 Reinos, mas a verdadeira coreografia ali é de câmera. O compasso das lutas não se dá na encenação, mas no jogo de aproximar, rodar e afastar que Woo impõe na montagem.

E aí fica difícil não se render ao estilo de John Woo. Não falta nem a pomba!

Leia mais críticas da Mostra 2009

Nota do Crítico
Ótimo