Crimes de ódio não são novidade nos filmes de Michael Haneke (Violência Gratuita), e em A Fita Branca (Das Weiße Band), Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2009, ele procura a origem do crime de ódio mais filmado e analisado do século 20, o Holocausto.
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Estamos em um vilarejo na Alemanha às vésperas da Primeira Guerra Mundial, e o vínculo com o nazismo é montado já na fala do narrador, que conta que ali, naquela comunidade, pequenos eventos prenunciam o que aconteceria com o país todo, anos depois. Haneke começa o filme, portanto, amarrado conscientemente nessa analogia com o Holocausto - e, ao seu modo habitual, começa a ditar o tipo que reação que espera do público.
O primeiro mistério é filmado com impacto: o médico do vilarejo está voltando para casa, montado num cavalo, quando um arame esticado entre cercas derruba o animal. Não se encontra o culpado pelo arame. Tempos depois, o filho do barão local se torna vítima. Em comum, os crimes têm a forma de castigo. Como em Caché, esse flerte com o subgênero do whodunit se reveste de comentário social - existe algo escondido ali, e não é só a identidade do criminoso.
O fato é que a punição, embalada como disciplina, está enraizada no vilarejo - e a fita branca do título, que o pastor local força dois de seus filhos a usar, como sinal de vergonha por pecados cometidos, é obviamente a antevisão da futura etiquetação antissemita de judeus nos princípios da Segunda Guerra. Costuma-se crer que Hitler chegou ao poder auxiliado pelo rancor que os alemães sentiam após a devastação do país na Primeira Guerra, mas para Haneke o embrião do mal é anterior.
E a maneira que o diretor austríaco encontra para dar rosto a esse mal é agressivamente despojada: close-ups de caras limpas, de feições sem traços de culpa ou de remorso, sem traço mesmo de ódio - ainda que esse ódio, nós sabemos, exploda de tempos em tempos. Um personagem diz, em algum momento, certeiro, que se trata de um ódio pior: os linchadores odeiam a si mesmos. De novo, como em Caché, a questão é entender quem é de fato a vítima.
Se A Fita Branca está preso à analogia com o nazismo, pelo menos a exerce com lampejos de brilhantismo, como no plano final, da missa na igreja, com sua arquitetura que lembraria depois um salão do Terceiro Reich. Independente da crítica que se faça à postura de Haneke diante do espectador, é inegável que ele está se fazendo entender.
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