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A Fuga das Galinhas | Crítica

Penas pra que te quero

22.12.2000, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11


O único motivo que estas galinhas teriam para continuar fugindo seria o assédio dos fãs. Só nos Estados Unidos, A Fuga das Galinhas já arrecadou mais de US$ 115 milhões, marca invejada por muito "filme sério". Aqui no Brasil, o longa fez parte da Mostra de São Paulo e criou filas enormes de marmanjos querendo se divertir um pouco. Não é para menos. Esta é a primeira vez que a Aardman Studios lança um longa-metragem e a expectativa era grande. Peter Lord e Nick Park, sócios do estúdio de animação, são conhecidos pelos Oscar que ganharam nos últimos anos (Park tem três estatuetas de curta em animação na sua casa).

Meia década é o tempo que o projeto demorou para sair de uma simples idéia e se tornar a animação de maior sucesso da Dreamworks. Após receber um "ok" do estúdio de Steven Spielberg, foram três anos de árduo trabalho para Lord e Park. Quando começou sua temporada americana, o filme conseguiu faturar US$ 17,5 milhões, ficando atrás apenas de Eu, Eu mesmo e Irene, com Jim Carrey, e deixando para trás muitos outros filmes de orçamento milionário e protagonizados por estrelas de Hollywood.

Dentes e óculos são apenas duas provas de que as galinhas da Granja Tweedy são tão ou mais humanas que os donos que as mantêm presas sob vigilância constante. Os campos de concentração usados pelos nazistas serviram de inspiração para o criar o interior das grades onde ficam confinadas os galináceos. Mas com o tempo percebe-se que o terreiro lembra mesmo é o acampamento alemão onde se passava a série "Guerra, Sombra e Água Fresca" (Hogan´s Heroes - 1965/1971), em que soldados aliados viviam enganando os alemães embaixo de seus próprios narizes.

Toda a pressão acontece porque a dona da granja, Sra. Tweedy, marca quais são as galinhas produtivas. As que não conseguem botar a cota semanal de ovos "tiram férias" e viram recheio de torta. O terrorismo pra cima das pobres trabalhadoras faz com que Ginger tome a frente do grupo e bole maneiras de libertar suas colegas. A galinha é tão criativa quanto o Cebolinha e tem sempre um plano "infalível" para tentar fugir do galinheiro. Assim como acontece com o personagem do Maurício de Sousa, algo sempre dá errado e ela acaba presa na solitária (acredite!).

Os céus trazem a última esperança de Ginger: Rocky, o galo voador. Com a promessa de fazer as rechonchudas penosas voarem, o galã faz muito charme e fica cheio de "galinhagem" para cima das "meninas" da granja, mas voar que é bom, nada. O treinamento é hilário, assim como são Nick e Fetcher, dois ratos que surgem como trapaceiros mas se mostram trapalhões.

Ao contrário de toda a tecnologia utilizada nos recentes Toy Story, Dinossauros e Formiguinhaz, A Fuga das Galinhas foi feito em Stop-Motion. Neste estilo de animação, os quadros são filmados um-a-um, ou seja, 24 fotos diferentes serão usadas para fazer um único segundo da edição final. A computação gráfica serviu apenas para dar uns toques finais no cenário e iluminação.

O bom humor britânico está presente em todo o filme, assim como as tradicionais citações aos clássicos do cinema como Indiana Jones e ET. Há ainda a rixa entre os americanos e os ingleses, que não perdem a chance de tirar um sarro dos ianques. Enfim, motivos para dar risadas é o que não falta em Chicken Run (título original em inglês).

Infelizmente, há razões para se ficar triste também. Mais uma vez a animação é tratada como "coisa para crianças". Boa parte das fitas que entram em cartaz são dubladas (muito bem dubladas, diga-se de passagem), privando o público local de ouvir, por exemplo, a voz do Galã(o) Mel Gibson, nas penas de Rocky. Isso sim é uma pena!

Nota do Crítico
Excelente!