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Crítica

Crítica: A Vida Íntima de Pippa Lee

Rebecca Miller traz seus dramas femininos indies para perto dos romances mainstream

17.12.2009, às 16H00.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 03H07

Em seu quarto longa-metragem, A Vida Íntima de Pippa Lee (The Private Lives of Pippa Lee), a roteirista e diretora Rebecca Miller (O Mundo de Jack & Rose) retoma temas trabalhados em seu segundo filme, o premiado O Tempo de Cada Um. São histórias de mulheres que - ao contrário do que diz a visão machista de mundo dos romances hollywoodianos - não dependem só de um homem ao seu lado para alcançar a felicidade.

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Não por acaso, os dois filmes adaptam textos escritos por Rebecca anteriormente. Publicado em 2008, o romance The Private Lives of Pippa Lee conta a história de uma mulher em colapso nervoso, Pippa (no filme vivida por Robin Wright Penn), que vê desgastar-se seu casamento com um marido idoso (Alan Arkin). A partir de flashbacks da adolescência, a trama nos mostra como a vida dela chegou àquele ponto.

Pippa é uma típica heroína "rebequiana", se já dá pra chamar assim: sua dedicação à rotina e à preservação de uma imagem de mulher bem-sucedida escondem um desamparo tremendo. É um pouco uma história de Pigmalião adaptada para tempos neuróticos. Ansiedade se traveste de normalidade - afinal, não há depressão nos EUA de hoje que não se trate com um remedinho - e ideais de completude, de realização de fato, parecem cada vez mais uma utopia.

A melancolia dá o tom nas tramas da diretora, e em Pippa Lee, mais do que em O Tempo de Cada Um, ela parece ser uma coisa contagiosa: a filha que sofre a reboque do abuso de remédios da mãe, o futuro marido que enxerga e se reconhece no vazio existencial de Pippa, a bela esposa do homem que, com um tiro, transfere para a futura esposa, sua substituta, todo o seu próprio mal-estar.

Se a tristeza parece sem fim, Pippa Lee tem, para compensar, um ponta de esperança que soa estranha dentro da cinematografia de Rebecca Miller: a certa altura, o filme dá a Pippa a esperança de se reapaixonar. É um elemento estranho porque habitual das comédias românticas mainstream, e não da linha indie de onde a diretora saiu. (Normalmente, para balancear o lado triste, Rebecca exporia o ridículo da vida, espécie de solução "auto-vacina", e em Pippa Lee o humor decorrente do ridículo também está presente, ainda que em menor grau.)

Como a Pippa adolescente é interpretada por Blake Lively - musa teen do seriado Gossip Girl em seu primeiro grande papel dramático no cinema - e o elenco tem figuras conhecidas como Keanu Reeves, Julianne Moore, Winona Ryder e Monica Bellucci, esse flerte com o mainstream fica mais evidente. E é justamente o ponto fraco do filme, como se o alento romântico na trama fosse uma concessão aos finais felizes hollywoodianos. Ter que acreditar em um Keanu Reeves com um Cristo tatuado no peito inteiro também não ajuda.

Nota do Crítico
Regular