Filmes

Crítica

Crítica: Blade: Trinity

Blade: Trinity

30.12.2004, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

De tantos males que acometem Hollywood, um especialmente marca as continuações: a síndrome do "next level". Toda sequência de sucesso deve ser maior, mais endinheirada, mais ambiciosa que o original. Repare como os envolvidos pontuam entrevistas dizendo que tal filme leva tal gênero ao famigerado "próximo patamar". No caso de Blade: Trinity (2004), David Goyer - roteirista dos dois primeiros longas da franquia e agora promovido também a diretor - já considera, na narração que abre a sessão, o legado de Blade maior que o próprio mito de Drácula.

Blade: Trinity

Blade: Trinity

Este ano de 2004 definitivamente não foi um bom para o Conde. Primeiro Stephen Sommers o destruiu em Van Helsing ao fazer do ícone um afetado amestrador de Shakiras histéricas. Agora Goyer o transforma num ser meio Enrique Iglesias meio Clóvis Bornay - Érico Borgo foi feliz na antevisão - para rivalizar com o caça-vampiros vivido por Wesley Snipes. Este, por sua vez, se vê obrigado a agrupar-se com uma força especial de humanos, os Nightstalkers, nessa nova fase que mistura ainda grandes corporações, exércitos de agentes federais e a disseminação de um vírus capaz de atingir o planeta inteiro. 

Percebe que proporção tomou aquele argumento adaptado em 1998 de uma obscura HQ da Marvel? O Blade de Stephen Norrington, que deu início à atual onda de super-heróis nos cinemas, se saiu bem justamente por sua despretensão. Em 2002 a marca cresceu, mas o diretor Guillermo del Toro soube segurar as rédeas da produção com uma trama bem elaborada - a melhor dentre as três. Agora as barragens romperam em honra do "next level": a histeria, a caricatura, a queda do personagem em seus próprios clichês e a descarada elaboração dos Nightstalkers visando uma franquia paralela falam bem mais alto.

Contribui para a implosão de Blade: Trinity a mão pesada de Goyer. Como roteirista, os seus chavões eram amenizados pelo trabalho dos estetas Norrington e Del Toro. No comando da coisa, ele deixa descambar para o trash um produto que já vivia na corda bamba entre o cool e o ridículo. Tem até poodle vampiro no meio. Quem gosta de lixo não tem do que reclamar. Em certa cena uma menina pergunta a Blade por que ele não pode ser uma pessoa mais legal. Sobe a música, a câmera faz a volta e fecha em close no rosto de Snipes, que diz: "porque o mundo não é legal".

E pensar que esse sujeito responde pelo roteiro do novo Batman...

Nota do Crítico
Ruim