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Crítica

Crítica: Bons Costumes

Bem-humorada comédia de época tem texto e elenco afinados

05.10.2008, às 21H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 05H12

O senso de humor inglês não envelhece. Bons Costumes (Easy Virtue), peça de 1926 de Noel Coward que já deu origem a um filme de Alfred Hitchcock, agora volta ao cinema, pelas mãos do diretor Stephan Elliott (Priscilla, A Rainha do Deserto). A diferença é que a comédia de costumes contemporânea virou uma comédia de época - mas sem perder a graça.

easy virtue

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Estamos nos anos 20, e a Europa ainda se refaz do trauma da Grande Guerra. Veterano de combate, Jim Whittaker (Colin Firth) se tornou um zumbi cínico, que despreza silenciosamente o teatro de aparências encenado por sua esposa Veronica (Kristin Scott Thomas). Mas Whittaker terá com que se divertir: seu filho John (Ben Barnes) está voltando para casa, recém-casado, acompanhado de sua esposa, Larita (Jessica Biel), uma estadunidense mais velha e progressista, para desgosto da sogra.

Do choque entre Veronica e Larita se dá todo o humor. Além da rivalidade por John, são duas visões de mundo distintos: a primeira preza pela tradição das festas, do cuidado com a casa e com a família, a segunda dispensa cerimônias, quer viver longe dos EUA e já está em seu segundo casamento. Veronica quase não tem hobbies, cuida de suas flores e organiza o festival de caça. Larita é campeã de corrida de carros, defende os animais, tem alergia a flores - e veste calças.

Não é a primeira nem será a última vez que se faz comédia no cinema com esse antagonismo intercontinental entre o arcaico e o moderno, mas Bons Costumes sabe encontrar o seu próprio tom, principalmente, pelas escolhas de elenco de Elliott. As personagens de Scott Thomas e Jessica Biel não são apenas diferentes por seus hábitos, são diferentes fisicamente. A atriz britânica tem os traços finos e o ar aristocrático que desde sempre lhe renderam papéis em filmes de época ingleses, enquanto a estadunidense não consegue esconder - e nem deveria, não é? - seu corpo atlético, de costas masculinizadas até, e seu rosto de lábios agressivamente grossos.

O texto é afinado, o elenco idem (destaque para a irmã-que-vai-ficar-pra-titia, interpretada por Katherine Parkinson, do seriado The IT Crowd). Elliott só se dá ao trabalho de não cometer deslizes. Faz a crônica do período com acidez, como seria mesmo de se esperar de um material pontiagudo como a peça de Noel Coward, e entrega uma comédia caricata na medida, espirituosa na medida.

Nota do Crítico
Ótimo