Ainda na ressaca da Nardonimania, estreia por aqui o filme de 2007 Caso 39 (Case 39). No suspense, Renée Zellweger interpreta Emily, uma assistente social que consegue impedir que um casal desnaturado mate a filha de dez anos, Lilith (Jodelle Ferland). Qualquer semelhança oportunista com a realidade, porém, para por aí.
caso 39
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A ficção tem suas reviravoltas, e a de Caso 39 não é difícil de adivinhar. Nem se trata de spoiler. O espectador que não suspeitava antes - as referências religiosas, a começar pelo nome da menina, são marteladas ostensivamente desde o momento em que a câmera enfoca a ficha do caso 39 - rapidamente descobre que Lilith não é exatamente uma criança comportada.
A revelação precoce potencializa a vocação de Caso 39 para o humor involuntário. O primeiro filme dirigido em Hollywood pelo alemão Christian Alvart (que depois faria Pandorum), também o primeiro terror com Zellweger desde que ela atuou em The Return of the Texas Chainsaw Massacre em 1994, é uma trasheira só.
Zellweger colabora bastante - com o cabelo molhado ela fica a cara de John Travolta em A Reconquista - mas a comicidade vem, antes, da forma como o roteiro estabelece a personagem. Em suspenses desse tipo, a protagonista é sempre influenciável - por isso vem habitualmente acompanhada de "contrapesos", dois coadjuvantes que personificam pensamentos opostos, como o cético e o crente, aqui representados por Ian McShane e Bradley Cooper. O problema em Caso 39 é que Emily é muito mais influenciável do que o normal.
Repare na velocidade com que ela, primeiro, decide que o melhor é morar com Lilith. Depois, dentro da trama, não deve passar um dia inteiro, e Emily já está convencida de que a menina é do mal. Ao mesmo tempo, basta para a protagonista assistir ao depoimento em vídeo dos pais homicidas (pressume-se que a assistente social já deveria ter feito isso) para mudar de ideia e aderir ao ponto de vista deles.
O sucesso de um suspense (e de filmes em geral) depende, antes de mais nada, da nossa identificação com o drama do protagonista. Mas quem iria se identificar com uma personagem sem personalidade como Emily? Há heróis de ficção que tomam decisões erradas - eles não deixam de gerar empatia por isso - mas até mesmo para tomar uma decisão errada é preciso fazê-lo com convicção.
O filme tem uma cena boa, justamente a única que consegue inverter nossa expectativa: quando o celular toca abafado debaixo do colchão e imaginamos ser o rosnado dos cães da cena anterior. De resto, Caso 39, em cenas que deveriam causar medo, não vai além da sessão de sadismo. A diversão é acompanhar Renée Zellweger fazendo caras e bocas porque, afinal, uma boçal como Emily merece mesmo todo tipo de castigo.
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