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No Ritmo do Coração conquista ao injetar emoção em fórmula simples

Longa de Sian Heder chegoou ao Brasil após sucesso no Festival de Sundance

01.10.2021, às 14H52.

A história central de No Ritmo do Coração (CODA) não é inédita. É uma clássica trama de amadurecimento, protagonizada por uma adolescente que se vê dividida entre as obrigações familiares e a vontade de seguir seus próprios sonhos. Mas a roteirista e diretora Sian Heder sabe bem disso -- e o filme conquista por trazer uma dose genuína de emoção a uma história que, sem isso, seria comum.

A protagonista do longa é Ruby (Emilia Jones), garota que mora com sua família em uma cidade pesqueira no norte dos Estados Unidos. Todas as manhãs, antes de ir para a escola, ela embarca com seu pai Frank (Troy Kotsur) e seu irmão Leo (Daniel Durant) para ajudá-los, o que já é uma responsabilidade e tanto. O elemento que define a vida de Ruby é outro, porém: ela é uma CODA (children of deaf adults, ou filha de adultos surdos) -- palavra que corresponde ao título original do longa.

Única pessoa ouvinte de sua família (que ainda conta com a vencedora do Oscar Marlee Matlin como a mãe, Jackie), Ruby é também a ponte entre ela e o mundo fora da comunidade surda, fazendo as vezes de intérprete em consultórios médicos e situações profissionais. Ela se vê dividida, no entanto, ao decidir ir atrás de sua paixão pela música, incentivada por um professor (Eugenio Derbez), mas pouco compreendida por seus pais.

Os conflitos que se seguem são tratados com delicadeza pelo texto de Heder (que se baseou no filme francês A Família Bélier, de 2014). Ainda que seja uma adolescente tentando encontrar seu lugar no mundo, Ruby tem um grande senso de lealdade a sua família; seus pais, por sua vez, fogem do estereótipo dos “pais rígidos”, o que resulta em uma dinâmica familiar mais leve do que nos acostumamos a ver em histórias do tipo.

O texto da roteirista e cineasta passeia entre o humor e o drama, e nessa mistura consegue atingir o tom certo para construir momentos realmente emocionantes. Mas o grande trunfo do longa está, inevitavelmente, em seu elenco central, fortemente comprometido com a história e seus papéis. Jones, além de criar uma adolescente com quem a identificação é imediata, tem a potência vocal que o papel pede. Já Kotsur, Matlin e Durant - todos surdos na vida real, assim como seus personagens - entregam atuações cheias de nuances e momentos especiais, com o intérprete de Frank, em particular, se sobressaindo nas cenas cômicas.

Vale notar que a maior parte das conversas do filme acontecem em ASL, a língua americana de sinais. A expressividade física da linguagem é reconhecida por Heder, que a torna parte central de vários momentos-chave de seu filme e compõe cenas visualmente interessantes. 

Ao final, No Ritmo do Coração é uma dramédia açucarada, feita para fazer o espectador rir, chorar e ficar com o coração quente. Mas tudo bem: a jornada percorrida pelo filme é genuína, e vale a pena ser vista. 

 

 

Nota do Crítico
Ótimo