Doze... é o novo Onze... e, como na maioria das continuações de sucessos hollywoodianos, a regra é multiplicar. Não apenas um outro segredo, mas também o dobro de complicações amorosas, o dobro de golpes insólitos, o dobro de comida ingerida por Brad Pitt, reviravoltas e piadinhas internas elevadas à enésima potência. Se você prezava no filme de 2001 o fiapo de concisão, esqueça. O que conta aqui é a megalomania.
Doze Homens e um Outro Segredo
Doze Homens e um Outro Segredo
A começar pelo primeiro roubo que Danny Ocean (George Clooney) e os seus onze comparsas planejam na Europa para compensar a grana que pegaram dos cassinos de Terry Benedict (Andy Garcia) e agora terão que devolver. O alvo é uma mansão em Amsterdã. Sabe aquela piada dos astronautas norte-americanos que gastaram milhões para inventar uma caneta que escrevesse de cabeça para baixo, enquanto os russo usaram lápis? Pois os onze de Ocean pensam como os engenheiros da NASA: por que rebaixar uma simples mureta quando se pode erguer um prédio inteiro pelos canais submersos da metrópole holandesa?
E olha que isso é só o começo... Um talentoso larápio rival (interpretado por Vincent Cassel) e uma bela inspetora (Catherine Zeta-Jones) ainda se colocarão no caminho. Exageros e verossimilhanças à parte, o diretor Steven Soderbergh (Traffic) sabe que o público só se preocupa em ver os seus astros preferidos em ação. Já era assim quando o Rat Pack de Frank Sinatra fez o Onze... de 1960 apenas para se exibir e se divertir. Pouco importa se a trama da refilmagem de 2001 é melhor que a atual. Vale mesmo é ver que Catherine e Cassel adicionam charme a um elenco cuja fotogenia já era um tanto anabolizada.
Star system
Não à toa, Clooney se mostra preocupado com a meia-idade que chega. Matt Damon exige, metáfora de sua condição na própria indústria do cinema, um papel de protagonista na gangue. Até Bruce Willis, marca em baixa nas bilheterias, aparece para tirar um naco da brincadeira... Colocar os nomes do star system (sistema de trabalho hollywoodiano criado na década de 1920 para criar e valorizar estrelas) para fazer um papel próximo de si mesmos é o artifício mais manjado, nestes tempos de paparazzi e invasão de privacidade, na hora de seduzir o público.
O fato de uma Julia Roberts cínica adicionar hipocrisia à receita, tipo cuspir no prato em que come, não estraga o êxito dessa artimanha reality show. Desde meados dos anos 30, quando criou o conceito de box office, caixa postal que aproximava os astros dos fãs, Hollywood sabe se aproveitar dessa sede pela vida particular dos seus ícones. Não seria diferente nos dias atuais em que os filmes de arte de Soderbergh naufragam junto à audiência e poucas coisas parecem render tanto dinheiro quanto o mercado de celebridades.