O estereótipo do cinema francês é aquele "cabeçudo", que termina em uma cena seca, dando até a impressão que acabou o dinheiro ou a ideia do que fazer a seguir. E daí temos Luc Besson, o mais hollywoodiano dos cineastas franceses - e isso não é demérito algum. Besson pegou uma indústria solidificada (a França tem um dos maiores números de cinema per capita do mundo e é um dos grandes produtores da sétima artes) e usou isso a seu favor, criando filmes em inglês de ação e com um visual bastante chamativo nos cenários e nos movimentos de câmera. O cinema noir e a nouvelle vague eram história. Era a hora do Cinéma du look, em que o visual prevalecia sobre a história. O rótulo, cunhado pela publicação Revue du Cinéma, obviamente não agradou Besson, mas lhe cai como uma luva e pode ser mais uma vez comprovado em Dupla Implacável (From Paris With Love), novo filme inspirado em um argumento seu e que ele produz.
Dupla Implacável
Dupla Implacável
Dupla Implacável
Passado em Paris, o longa começa apresentando James Reece (Jonathan Rhys Meyers) um funcionário CDF da embaixada estadunidense que sonha em ser um agente secreto. Fora do prédio oficial do governo, ele recebe ordens de uma voz misteriosa que o coloca para fazer trabalhos menores - como trocar a placa de um carro que será usado em uma missão - e vive lhe prometendo uma promoção. Seu último teste, diz a voz, é ir até o aeroporto pegar Charlie Wax (John Travolta), agente falastrão que começa a causar confusões assim que pisa em solo francês e só sai dali depois que Reece usa seus poderes de diplomata.
A primeira parada dos dois é um restaurante chinês, que em poucos minutos está todo destruído em uma violenta troca de tiros entre Wax e o staff do lugar, fachada para o tráfico de cocaína. É o início da aventura dos dois pelo submundo parisiense, os banlieus cheios de imigrantes que pouco se vê nos normalmente glamourosos filmes sobre a Cidade Luz. Para ligar as gangues chinesas a terroristas árabes que querem explodir uma comissão americana prestes a desembarcar no país bastam mais algumas dúzias de tiros, um punhado de correria e uma generosa porção de explosões. O resto é mais tiros, correrias e explosões. Ah e uma reviravolta, lógico!
A fórmula é essa e Besson não tem vergonha de repeti-la, abusando da adrenalina para deixar o público tonto enquanto a trama vagarosamente é deixada de lado. Porém, na tentativa de criar uma dupla carismática e assim ter em mãos uma franquia do tipo Máquina Mortífera, pouca coisa podia dar mais errado. Há apenas uma boa piada (referência mais do que óbvia a Pulp Fiction) e sobram problemas às atuações. Rhys Meyers, que se sai bem no estilo galã e não faz feio nas cenas de ação, escorrega quando tem que ser o nerd desengonçado e seguidor das regras. E o Wax interpretado por Travolta é tão exageradamente cheio de si que acaba enchendo é outra coisa.
Melhor sorte ao diretor Pierre Morel, que depois do inesperado sucesso de Busca Implacável (Taken) tem em suas mãos a árdua tarefa de refilmar Duna. Aqui, o Cinéma du Look de Besson vai ter que mostrar também um pouco de conteúdo.
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