Comédias sobre paternidade não têm muito segredo. Desde sempre mostram o choque dos pais ao perceberem que seus filhos cresceram. Cenas como o encontro de uma camisinha ou algum acessório sensual são obrigatórias. Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (Dan in Real Life, 2007) tem um momento desses logo no começo, com o protagonista encontrando uma calcinha fio-dental da filha mais velha. Mas o que parecia uma repetição de um estilo desgastado logo desvia-se para algo mais interessante. Igualmente pouco inventivo, mas ao menos mais interessante.
eu meu irmão e nossa namorada
dan in real life
A trama acompanha Dan Burns (Steve Carell), um colunista de jornal viúvo que vive com as três filhas (Alison Pill, Brittany Robertson, Marleen Lawston). Solitário e atarefado em meio às meninas, das quais ele cuida com devoção, o homem passa seus dias sem tempo para si mesmo. Até que, durante um fim de semana na praia ao lado da família, ele conhece uma mulher interessantíssima (Juliette Binoche) e, uma xícara de café e um bolinho depois, desejos há muito encostados novamente afloram. O problema? Não demora para que Dan descubra que ela é comprometida... e pra piorar, com o seu irmão mais novo (Dane Cook).
Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada é um filme sobre frustrações, mas com um tom simpático - ora engraçado, ora levemente melancólico - e bastante equilibrado em suas intenções.
A direção é de Peter Hedges, que estreou na função em Do Jeito Que Ela É, sujeito mais conhecido pelo romance que inspirou Gilbert Grape - Aprendiz de sonhador e o roteiro de Um Grande Garoto. Analisando a obra dele, ficam evidentes alguns paralelos entre os filmes. Todos são modestos e têm essa aura "agridoce", com piadas tristes, mas que deixam aquela sensação boa ao final (não por acaso, o termo em inglês é "feel good movie").
Convenhamos, porém: Um "amor proibido", a "busca de tempo para si próprio em meio às obrigações cotidianas e da família", "auto-descoberta"... você já viu esse filme. Mas o fato é que as presenças de Steve Carell (Agente 86) e Juliette Binoche (Cache) tornam o repeteco irresistível. Binoche continua um charme. Carell - que um executivo da Universal Pictures disse que tinha "cara de assassino serial" durante uma exibição de copiões de O Virgem de 40 Anos - segue com aquele jeitão vulnerável e engraçado que ele faz tão bem e prova, como já havia feito em Pequena Miss Sunshine, que também é capaz de atuações dramáticas.
Parando pra pensar, a historinha do assassino até que faz sentido... Carell tem mesmo o jeitão de pessoa pacata que esconde algo dentro de si. Felizmente, como ele já mostrou mais de uma vez no cinema e na televisão (The Office US, brilhante), esse elemento oculto parece algo extremamente positivo.
Ok... ele fez também A Volta do Todo Poderoso, mas esse a gente finge que não viu.