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Crítica

Crítica: Fish Tank

Andrea Arnold volta aos cubículos habitacionais ingleses para contar típica história de formação

26.10.2009, às 19H00.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 03H12

Se fosse ensaiado não sairia igual. Fish Tank trata da paixão de uma adolescente de 16 anos por seu candidato a padrasto, e a música preferida do personagem é "California Dreamin'", na voz de Bobby Womack. Fica difícil não pensar na sinistra coincidência, agora que veio a público a intimidade incestuosa de John Phillips, líder da banda que compôs a canção, The Mamas & The Papas.

fish tank

É o que há de mais marcante num filme que, de resto, não está à altura do que se esperava do segundo longa-metragem da diretora inglesa Andrea Arnold, depois de um primeiro filme incisivo, Marcas da Vida, Prêmio do Júri no Festival de Cannes.

Rodado em Essex, na Inglaterra, Fish Tank volta aos conjuntos habitacionais impessoais que já serviam de cenário em Marcas da Vida. O tal fã de Womack é Connor (Michael Fassbender), namorado novo da mãe de Mia (Katie Jarvis). No país de Simon Cowell, todo adolescente se acha um pouco estrela, e Mia treina muito para que sua dança a leve para outro lugar. Quando Connor se mostra entusiasta dos sonhos de Mia, a coisa já começa a complicar.

Os aquários do título estão, figurativamente, por todos os lados: no cubículo com paredes azuis que Mia invade para dançar break, na ação que a câmera captura pelo buraco retangular da parede, nos videoclipes abastados de hip hop que passam o tempo todo na TV. A vida é um claustro quadrado em Fish Tank.

E essa visão pessimista de mundo - não dá pra dizer reducionista, porque a própria proposta do filme é trabalhar com a redução como sufoco - não dá descanso. Em sua história de formação ( como em tantas outras típicas passagens da adolescência à vida adulta, como o recente À Deriva), Mia descobre o sexo, se desilude com o mundo dos adultos, cai na realidade de que nem todo garoto de sua idade é do mal, e, finalmente, encara o risco da morte de perto.

É a previsibilidade, portanto, que danifica mais as aspirações de Fish Tank, ainda que o estilo da diretora se faça sentir, como nas cenas noturnas, com baixa luz, e no rigor com que ela se afiança no conceito dos cubículos. Aliás, o conceito perdura até o fim, porque a paisagem de sonho californiano onde mãe e filha dançam juntas no final do filme continua sendo só um sonho.

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Nota do Crítico
Bom