A maior qualidade de Homem de Ferro é o foco nos personagens, a exploração de Tony Stark (Robert Downey Jr.) como o mais falho dos super-heróis do cinema. Obviamente, o perfeito equilíbrio entre ação e humor também não prejudicou em nada o sucesso do filme. Assim, nada melhor que manter, sem deslumbramentos, as boas ideias para a sequência. Nada da velha máxima do blockbuster hollywoodiano "aumentar tudo para a continuação" em Homem de Ferro 2.
Na trama, depois de revelar ao mundo que é o Homem de Ferro, Tony Stark enfrenta um novo problema. Enquanto a existência do super-herói gera uma sensação de paz mundial, a mesma tecnologia que o mantém vivo começa a envenená-lo. Além disso, com sua exposição, um antigo inimigo da família Stark sai das sombras... e alia-se à principal concorrente da Stark Internacional, as indústrias Hammer, fornecedoras de armas do governo dos EUA - que pretende controlar a tecnologia do Homem de Ferro.
Se Favreau optou em aumentar alguma coisa para o novo filme do Marvel Studios é a quantidade de personagens. Agora que conhecemos Tony Stark, Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) e James Rhodes (Don Cheadle, substituindo - à altura - Terrence Howard), é hora de sermos apresentados a Natasha Romanov (Scarlett Johansson), Ivan Vanko (Mickey Rourke) e Justin Hammer (Sam Rockwell). Os novatos chegam para atribular as já complexas relações entre o trio protagonista. É tudo tão meticuloso que sobra até espaço para cenas legais com Happy Hogan (Favreau) e Nick Fury (Samuel L. Jackson).
É ótima a maneira que Jon Favreau e o talentoso roteirista (e também ator) Justin Theroux (Trovão Tropical) concatenam as ligações entre os personagens e seus passados. Os dois novos vilões, Vanko e Hammer, são verdadeiros anti-Tony Starks, forjados do mesmo molde dos heróis, na melhor tradição da Marvel Comics. Seus motivos até são justos, mas seus métodos questionáveis os distanciam da preferência do público. Aliás, não fosse o talento cômico e o carisma de Downey Jr., o próprio Tony Stark causaria repulsa. Como torcer para um sujeito narcisista, arrogante, dotado de um comportamento autodestrutivo e que urina nas próprias calças - ou melhor, armadura?
Qualidade de texto e atuações à parte, Homem de Ferro 2 entrega tudo o que se espera de um filme baseado nos quadrinhos Marvel também na ação. São três grandes sequências explosivas: em Mônaco, com o ataque do Whiplash; o emblemático confronto das armaduras; e o gigantesco clímax na Stark Expo 2010. Todos extremamente significativos, amarrados à trama e resumindo de maneira visual os dilemas já dramatizados.
Os fãs do universo dos quadrinhos certamente também gostarão de saber que os planos para a criação do grande filme da Marvel, Os Vingadores, seguem ainda mais presentes em Homem de Ferro 2. Depois de insinuações e cena pós-créditos no primeiro, aqui a superequipe é uma realidade nascente. Além de Nick Fury e Viúva Negra em cena, há menções aos acontecimentos de O Incrível Hulk e do vindouro filme do Thor, além de uma participação especial - bem mais clara desta vez - do escudo do Capitão América. O próprio nome "Iniciativa Vingadores", o que Tony chama de "boy band superpoderosa", é presente em diversas cenas.
Parece algo óbvio, mas são raros os grandes filmes que conseguem manter-se dentro de suas pretensões iniciais e não exagerar na dose na segunda vez. Cineasta e também ator, Jon Favreau interessa-se em doses iguais pelos efeitos especiais superbacanas, câmeras por todos os lados registrando a ação e explosões, e pela conexão entre o elenco e como isso afeta os personagens - e o faz de maneira ainda mais confiante. O que salta aos olhos inicialmente em Homem de Ferro 2 são as armaduras reluzentes, mas é na relação e desenvolvimento de todos em cena - e seus diálogos, refinados em diversos ensaios e muitas vezes improvisados - que o filme se sustenta.