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Crítica

Crítica: Inimigo Público nº 1 - Instinto de Morte

Estreia a primeira parte da história do famoso criminoso francês Jacques Mesrine

02.07.2009, às 17H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 03H05

Não é de hoje que o cinema policial e de ação francês emula os formatos de Hollywood, e agora a moda dos dípticos também pegou por lá: convém saber, antes de entrar numa sessão de Inimigo Público nº 1 - Instinto de Morte, que o filme termina em aberto e a conclusão só acontece em Inimigo Público nº 1 - Parte 2, que a Califórnia Filmes lança no Brasil até o fim do ano.

inimigo público

inimigo público

inimigo público

(Originalmente, em francês, a primeira parte se chama L'Instinct de Mort e a segunda, que já saiu lá fora, é intitulada L'ennemi Public nº 1.)

A divisão da história em duas partes pode ser um pouco frustrante porque o primeiro longa é um longo flashback: começa com a morte do famoso criminoso francês Jacques Mesrine (Vincent Cassel), numa emboscada. Na vida real Mesrine morreu em 1979, mas esse acontecimento, apesar de todo o suspense armado, não volta a ser assunto do primeiro filme.

O que se acompanha nesta parte um é a construção da má fama de Mesrine, desde uma traumática passagem pela Guerra da Argélia em 1959, passando por conquistas amorosas na Espanha em 1960, por uma rotina de golpes na Paris da medade da década de 60, até o fato que o transformou em celebridade, numa prisão canadense, em 1972. É um filme-ficha-corrida. Vão-se os anos e aumenta-se o mito do francês matador, galanteador e escapista.

Uma passagem, especificamente, diz muito do que o diretor Jean-François Richet (diretor do remake hollywoodiano de Assalto à 13a. DP) busca em termos de imaginário: quando Mesrine atravessa uma estrada do Arizona a toda velocidade, com meia-dúzia de viaturas em seu encalço, Richet não se furta a fazer aéreas das montanhas rochosas que acompanham o estilo de vida de todo easy rider do cinema dos EUA. Mesrine e sua namorada na época chegaram a ser comparados com Bonnie & Clyde, analogia que sem dúvida se presta aos intentos de Richet.

Não é de se espantar que Richet dispense muito mais tempo ao espetacular episódio da prisão do que aos pormenores da intimidade do bandido. Porque é a mitificação típica de Hollywood que o diretor procura para Mesrine: dar mais atenção ao que existe de gênio do mal nos atos do personagem do que tentar explicá-los.

Optar pela glamurização, em si, não é um defeito. O problema de verdade é associar toda a falta de caráter de Mesrine a um único episódio, o do combate aos argelinos em 1959 - afinal, se esta é a memória mais antiga do personagem que o roteiro achou apropriado resgatar, então entende-se que é a memória que o define como pessoa. Inimigo Público nº 1 reduz a complexidade da questão a um clichê: foi o horror da guerra que desumanizou Mesrine.

A ironia: Jean-François Richet sabe que essa simplificação é falsa. Tanto que, nos créditos iniciais, como um aviso, assume que a representação jamais capturaria com profundidade a personalidade de Mesrine. Muito oportuno...

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Nota do Crítico
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