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Machete | Crítica

Robert Rodriguez traveste suas obsessões de exploitation em um filme onde não há tempo a perder

09.12.2010, às 18H55.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 18H02

O diretor Robert Rodriguez diz que Machete (2010) inventa os filmes mexploitation - um filme B na linha dos blaxploitation setentistas, mas que explora a cultura chicana - só que isso ele já vem fazendo há anos. Rodriguez mimetiza letreiros e efeitos sonoros para configurar a estética do exploitation (como em Grind House). De resto, tudo em Machete é familar.

machete

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Na trama, o renegado Machete (Danny Trejo), ex-agente federal mexicano, depois de ser caçado pelo chefão do tráfico Torrez (Steven Seagal), vaga pelas ruas do Texas e acaba aceitando de Michael Booth (Jeff Fahey) uma proposta para assassinar o senador McLaughlin (Robert De Niro), ícone dos conservadores que querem fechar a fronteira dos EUA aos ilegales. O contrato se revela uma arapuca, e na fuga Machete encontra refúgio na rede clandestina de Luz (Michelle Rodriguez).

Quem assistiu às histórias novelescas de terra, roupas de couro e suor da chamada trilogia mexicana de Rodriguez reconhecerá os tiroteios em igrejas e ao pé da cama, a roupa com nichos para lâminas de Trejo, os justiceiros caolhos. O que não significa que Machete seja um simples déjà vu. Um olhar mais atento verá que o diretor depura o seu estilo e enxuga a narrativa - elimina o que é desnecessário e fica só com o que lhe interessa.

E o que interessa a Rodriguez? Tudo aquilo que envolve iconografia. As referências religiosas estão mais presentes do que nunca. Tem a roupa da freira, a tatuagem no peito de Trejo, as cruzes todas, e há a gravidade cristã do "te vejo no inferno" que os vilões soltam enquanto agonizam. Os ícones do conservadorismo estão na costeleta de Don Johnson, no sotaque de De Niro, nos inserts da campanha do senador. E há, enfim, a iconografia latina: o cabelo e o corpo nu de Jessica Alba, antes de mais nada.

A questão é que esses ícones, embora ostensivos, organizam-se em Machete de um jeito orgânico. É como uma caricatura domada, consciente. Pense nas armas de Trejo quando ele invade a mansão: as lâminas do aparador de grama correspondem ao clichê do mexicano que trabalha de jardineiro e, ao mesmo tempo, justificam-se porque o federal é adepto das armas brancas. O mesmo acontece com os burritos e os tacos que todo mundo come sempre no Texas, imagem da qual o filme se apropria. Há, ao mesmo tempo, um pouco de paródia e um pouco de autenticidade.

Isso faz parte da tal depuração que Rodriguez opera. O diretor faz um trabalho muito conciso, se considerarmos a quantidade de coadjuvantes de luxo, de subtramas, e a constante tentação de despirocar. Se não importa ao diretor (nem ao espectador, provavelmente) entrar em pormenores da trama, Rodriguez não se desvia. Repare como há sempre um celular à mão para manter todos os personagens informados do andamento da trama. Na melhor tradição do filme B, a solução primeira é a mais simples (como o padre ter câmeras de vigilância no confessionário).

Tudo tem que ser descomplicado porque em Machete não há tempo a perder. E Machete, como você vai descobrir... Machete não texta.

Assista a três cenas
Machete | Horários e cinemas

Nota do Crítico
Ótimo