Uma das grandes críticas sobre os filmes brasileiros é a temática, que sempre recai sobre o árido nordeste ou a miséria e violência que vêm das periferias. Neste ponto, a cineasta Laís Bodanzky (O Bicho de Sete Cabeças, Chega de Saudade) já se destaca. As Melhores Coisas do Mundo (2010), seu terceiro longa-metragem, foge mais uma vez do "Brasil para exportação" ao falar dos adolescentes da classe média. E não se engane: apesar do cenário principal ser um colégio paulistano e as ruas da cidade aparecerem bastante também, a trama podia se passar em qualquer lugar, do Rio de Janeiro a Nova York ou Tóquio, com poucas modificações, pois fala de pessoas e não situações.
As Melhores Coisas do Mundo
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O personagem principal é Mano (Francisco Miguez), um adolescente de 15 anos que está enfrentando todos os problemas que vêm com a idade - a cobrança dos amigos para perder a virgindade, a busca por um lugar na sociedade, a paixão não correspondida, etc. - e ainda o bônus que é ver seus pais (Denise Fraga e Zé Carlos Machado) se separarem. Seus melhores amigos são Carol (Gabriela Rocha) e Deco (Gabriel Ilanes). E seu confidente, o professor de violão Marcelo (Paulo Vilhena).
Os cineastas, todos já bem mais velhos que os personagens que estavam criando, sabiam do enorme risco que estavam correndo ao tentar recriar nas telas o selvagem meio-ambiente das fofocas, inseguranças e traições, e da forma como a mídia atual, com SMS e YouTube, viraliza instantaneamente as informações, tornando o cyberbullying um dos maiores problemas da atualidade. Verdades, mais do que nunca, são relativas e segredos têm o prazo de validade cada vez mais curto.
Por isso o roteirista Luiz Bolognesi, não parou sua pesquisa apenas na série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. O script foi refinado com a ajuda de adolescentes, que em conversas com a equipe ajudaram a mapear essa geração e deram ao trabalho situações e diálogos que fazem parte do seu dia-a-dia, trazendo toda a realidade que a trama pede. O resto ficou por conta dos atores - quase todos sem experiências anteriores -, que trabalharam em cima do que estava escrito, mas com margem para pequenas improvisações.
Mas não dá para reduzir toda uma geração a blogs, o estilinho Gossip Girl, SMS e fotos pelo celular. A informação digital, que é cada vez mais descartável, ainda não conseguiu matar de vez o gosto de escrever na agenda, manter um diário com papel e caneta. É o caso de Carol, que compartilha apenas com o seu moleskine o que está pensando, sem precisar publicar na Internet cada interrogação que surge. É o caso também da canção Something, dos Beatles, que contrapõe a volatilidade dos hits de hoje, que evaporam mais rapidamente do que o download de um torrent.
Em uma das cenas do filme, a reunião na escola, uma das mães levanta a mão para falar que "O mundo mudou muito nestes últimos cinco, dez anos", e imagino que ninguém tenha coragem de discordar dessa afirmação. A boa notícia é que As Melhores Coisas do Mundo vem para ajudar a responder algumas das dúvidas dos pais, esclarecer outras para os adolescentes e, principalmente, mostrar que o cinema brasileiro não se resume a fome e miséria.
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