Spike Lee é, salvas exceções, um cineasta monotemático. E é válido o esforço que ele faz para enaltecer os negros, combater a discriminação e denunciar os abusos do passado e presente. Afinal, se não fosse Faça a Coisa Certa (Do The Right Thing, 1989), talvez ele não tivesse a importância que tem hoje no cenário do cinema mundial. Porém, esse seu bater na mesma tecla às vezes cansa e outras vezes gera filmes abaixo da sua média, que aparentemente só são produzidos porque o tema lhe é caro.
Milagre em St. Anna
Milagre em St. Anna
No papel, Milagre em St. Anna (Miracle at St. Anna, 2008) teria elementos suficientes para ser um filmão. O longa mostra uma divisão do exército estadunidense formada exclusivamente por negros, uma experiência criada pelos generais brancos para ver do que os negros eram capazes. Porém, o preconceiro continua entrincheirado, esperando o momento certo para atacar. No meio de uma investida contra o lado alemão, um comandante não acredita na informação enviada por um de seus subordinados, e não ataca nos pontos certos, causando a morte de muitos soldados do Tio Sam.
Quatro deles conseguem escapar da carnificina e das tropas alemãs que dominam a região, chegando à segurança momentânea de uma pequena vila na Toscana. A tiracolo, o soldado Train (Omar Benson Miller), um grandalhão de bom coração, carrega um menino italiano (Matteo Sciabordi) que ele salvou da morte certa. Quem lidera o grupo é o idealista Sargento Stamps (Derek Luke), que vive em conflito com o mulherengo Sargento Bishop (Michael Ealy). Quem faz as traduções entre os italianos e os soldados é o porto-riquenho Hector Negron (Laz Alonso).
Durante o tempo em que se escondem dos nazistas e tentam contato com a sua divisão para voltarem à base, os quatro vão se envolvendo com os habitantes do povoado e também com os partisans, rebeldes que vivem nas montanhas, escondidos e preparando emboscadas contra os soldados de Hitler.
Sem querer estragar qualquer surpresa da trama, o título faz referência ao massacre de Sant'Anna di Stazzema, em que 560 pessoas - a maioria mulheres, crianças e velhos - foram mortas por oficiais da SS. O tal milagre foi escrito primeiro por James McBride, que depois acabou também roteirizando o filme. Mas tudo demora muito para acontecer e quando vem a explicação, ela é seguida por uma enxurrada de acontecimentos, desenrolando toda a vagarosa história de 2h40 em questão de minutos.
Essa falta de ritmo faz sangrar o ambicioso projeto de Spike Lee, que custou 45 milhões de dólares, o mais alto orçamento de sua carreira (ao lado de O Plano Perfeito). Depois de nascer como O Resgate do Soldado Ryan em uma sangrenta batalha cheia de pedaços de corpos que voam pelos ares e ganhar ares de A Vida é Bela, Milagre em St. Anna conclui sua história de forma fácil e demasiadamente melosa.