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Crítica

Minha Mãe É Uma Peça 3

Comédia brasileira tenta entregar mensagem de aceitação, mas roteiro pobre e lugares-comuns ficam no caminho

12.12.2019, às 19H02.
Atualizada em 28.07.2022, ÀS 09H48

Após dois filmes de sucesso, lançados em 2013 e 2016, Minha Mãe É Uma Peça chega ao seu terceiro longa já com um público estabelecido e seu idealizador e protagonista, Paulo Gustavo, visto como um dos principais humoristas do Brasil. Talvez por isso, o novo filme se dá ao luxo de evitar qualquer tipo de esforço em seu roteiro, apenas reciclando o que deu certo nos dois primeiros filmes protagonizados por Dona Hermínia (Gustavo).

Na nova trama, Hermínia se vê novamente desafiada pelas mudanças na vida de seus filhos, Juliano (Rodrigo Pandolfo), que conta estar noivo de Thiago (Lucas Cordeiro), e Marcelina (Mariana Xavier), que anuncia sua gravidez do namorado Sol (Cadu Fávero). Solteira, com mais de sessenta anos e sem conseguir ajudar os filhos nos preparos do casamento e da chegada do bebê, a personagem agora vive de idas à feira e tours com outras senhoras entre Rio de Janeiro e Niterói, em meio a vários encontros e desencontros com seu ex-marido, Carlos Alberto (Herson Capri).

Embora acerte ao mostrar uma independência quase total de Hermínia em relação aos homens, com a personagem inspirada na mãe de Gustavo viajando ao exterior, indo para festas e se divertindo com a irmã e as amigas, o roteiro soterra qualquer referência a essa independência em piadas batidas sobre a idade de Hermínia e o quanto ela e Carlos Alberto se tornaram “inúteis” e “esfarelados” com o passar do tempo. A cada cena de Minha Mãe É Uma Peça 3, existem, ao menos, duas tentativas de criar humor em cima da suposta idosa decrépita Hermínia que, paradoxalmente, faz trilhas, organiza festas, cozinha para toda a família e ainda organiza um enorme apartamento em Niterói com a ajuda de sua diarista, Waldéia (Samantha Schmütz).

Outra mensagem que passa quase despercebida pelo filme é a felicidade proporcionada pelo casamento de Juliano e Thiago, mesmo que Gustavo tenha afirmado ser essa sua inspiração para o terceiro capítulo da franquia. Embora fosse a oportunidade perfeita para aprofundar a história do filho de Hermínia e continuar mostrando, como nos últimos dois filmes, um casal homossexual livre dos clichês criados pela comédia brasileira (um dos grandes méritos de Gustavo na franquia), o romance dos dois é colocado de lado para dar lugar à velha trama de sogras que se odeiam, já vista repetidas vezes na dramaturgia brasileira e requentada pela relação mal explicada de Hermínia e Ana (Stella Maria Rodrigues). Embora Gustavo tenha justificado a ausência de um beijo entre os noivos dizendo que queria mostrar a felicidade do casamento gay, os próprios noivos pouco são vistos em tela, tornando a justificativa do humorista completamente vazia.

Mesmo que emocione em alguns momentos, é difícil não sentir que os dilemas de Minha Mãe É Uma Peça 3 são resolvidos com uma facilidade quase surreal. Praticamente referenciando a franquia Velozes & Furiosos, toda e qualquer discussão criada pelo roteiro de Gustavo, Fil Braz e Susana Garcia (que também dirige o filme) é esquecida num passe de mágica sempre que a palavra “família” é citada por Hermínia ou seus filhos. Até mesmo o enorme ódio entre a protagonista e Ana é rapidamente esquecido durante a união de seus filhos.

Os três nomes que assinam o roteiro também são incapazes de naturalidade. Cenas auto-referenciais, como Hermínia assistindo Minha Vida em Marte, também dirigido por Garcia, a aparição do marido e dos filhos de Gustavo ou citação sem pé nem cabeça a Herson Capri, servem apenas para distrair o espectador de um filme já pouco inspirado e extremamente cansativo, apesar de ter apenas 110 minutos.

Mesmo que a obra de Gustavo não torne suas personagens femininas e homossexuais em amontoados de clichês, o roteiro desvia suas piadas exageradas para outros alvos fáceis e esquece de focar em temas relevantes, preferindo dar lugar à caricatura que o humorista faz da mãe. Fadado à repetição de piadas e gritarias de seus antecessores, é difícil que Minha Mãe É Uma Peça 3 iguale, também, as boas marcas de bilheteria alcançadas pela franquia.

Nota do Crítico
Regular