Antes de mais nada, devagar com as expectativas. Monstros (Monsters, 2010) é a mistura de Cloverfield com Distrito 9 que dá pra comprar com 500 mil dólares, e não um espetáculo pirotécnico esperando o momento de estourar.
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O filme de estreia no cinema de Gareth Edwards começa na mesma levada do sucesso sulafricano. Se em Distrito 9 os aliens vivem entre nós há duas décadas, em Monstros eles caíram no México, trazidos numa sonda espacial, seis anos atrás. Também seguimos um herói improvisado de moral duvidosa (um fotojornalista encarregado de levar a filha do chefe de volta aos EUA), em um cenário de terceiro mundo onde toda informação que recebemos sobre o incidente é intermediada pela TV.
O subtexto político e o comentário sobre a mídia sacramentam as comparações com Distrito 9, mas o longa aos poucos se aproxima mais do filme-catástrofe produzido por J.J. Abrams. De Cloverfield, Monstros pega emprestada a trama de fundo romântico e o poder de sugestão (raramente vemos as tais criaturas por inteiro, apenas os efeitos de sua passagem). É a opção que Edwards faz por um registro mais intimista - e é também o que dá pra custear.
Vale dizer, então, que o diretor, que já trabalhava com efeitos visuais em documentários, gasta bem os seus 500 mil dólares (400 mil só na pós-produção). É a estética realista e suja dos efeitos de D9, mas num grau menos grandiloquente, mais mesclada com um cenário já poluído de informações (não dá pra dizer, diante de algumas ruínas arquitetônicas, se são reais ou artificiais, por exemplo).
Dos documentários, Edwards traz a urgência da observação dos entornos, e a ambientação e esse olhar são o que Monstros tem de melhor - com seus carroceiros levando turbinas de jatos, cascos de navios inexplicavelmente sobre copas de árvores, murais desbotados com ilustrações dos ETs. É como se realmente, depois de seis anos, o México tivesse se adaptado às mudanças, ou se acostumado com elas.
Se Edwards não tem a segurança ou a sutileza de um verdadeiro contador de histórias - não vou aqui ficar reclamando mais uma vez do didatismo extremo, isso já está mais do que visível nos diálogos redundantes e na falta de confiança na imagem como condutora da narrativa - ao menos está interessado em construir um universo visual particular. Um universo que não tem medo de ser piegas. Há insinuações de D9 e Cloverfield, mas no fundo Monstros talvez seja um filme de amor mais próximo de Avatar do que se imagina...